Soneto Clássico heroico/sáfico com mote ou Soneto Glosado
Soneto CCLII - de Petrarca (Abertura)
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Soneto CXXXII - de Petrarca (Chave de Ouro)
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
DO RISO À LÁGRIMA
De meu estado incerto, ou choro ou canto
não voga se amanhece ou cai a noite,
percorro do prazer ao pleno pranto
como se a hora fosse grande açoite.
Alegria e tristeza, em desencanto,
ensaiam e combinam o pernoite,
exibem tudo que há em mim, no entanto
mantenho a fé no brilho da sonoite.
Ninguém explica toda a nostalgia,
este mistério apenas me pertence:
é meu segredo-mor, de cunho interno.
Mil figuras me assombram todo dia
com este enredo atroz que sempre vence
e tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Basilina Pereira
CONFISSÕES
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Mas como cantaria, se padeço
Por nunca merecer o teu apreço
Que neste meu viver desejo tanto?
Quisera ter-te aqui no meu recanto
Com esse jeito teu, demais travesso,
A olhar-me, com desejo, desde o avesso,
Enquanto finjo pejo, imenso espanto...
Ah! Meu amor! Quisera ter-te assim
Do modo que sonhei e aqui externo,
e nunca mais sentir tamanho esplim.
Só de pensar, meu bem, me desgoverno,
Confesso amar-te em grego ou mandarim
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Edir Pina de Barros
INTREPIDEZ
Do meu estado incerto, ou choro ou canto,
a depender, amor, de um beijo teu
que me abre o céu e oferta um apogeu,
despe minh'alma, meu segredo e pranto.
Cálido beijo, que desejo tanto,
torna-me ousada e funde o pejo meu,
repleto de querer, dissolve o breu,
e tange ao longe a dor do desencanto.
Não nego que sou presa do prazer
que, nos teus lábios, tens a oferecer,
por isso, eu canto ou choro e aqui externo:
vivo este amor em plena intrepidez,
beijo-te agora como a prima vez
e tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Geisa Alves
PARADOXO
De meu estado incerto, ou choro ou canto.
Em cada novo dia, ou paro ou corro,
Diante do deserto, ou vivo ou morro,
Porém na poesia, eu me decanto.
Difícil decidir se colho ou planto,
Não sei qual o caminho que eu percorro
E nem se vou pedir algum socorro,
Pois no redemoinho, eu sou mais santo.
As coisas tão normais, agora estranho,
Eu pisco e meus farrapos viram terno,
Talvez seja demais o quanto ganho.
Na reta ou no desvio, mundo hodierno,
Engulo os muitos sapos que eu apanho
e tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Luciano Dídimo
NÃO OU SIM
De meu estado incerto, ou choro ou canto
Por essa aurora que se faz ocaso,
Por esse agora que se faz sem prazo,
Por esse riso que se torna pranto.
Ou pela dor que morre ao acalanto,
Por essa angústia que aniquilo e arraso,
Pelo moderno que se faz parnaso,
Por esse engano que se torna encanto.
Pois, o teu “não” me deixa em desvario
Lança-me num soturno e torpe inferno
Defenestra meu eu, fende meu brio.
Mas, ao teu “sim", ao extremo, assim me alterno,
Que me causa rubor e calafrio,
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Paulino Lima
APREENSÕES
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
jamais sei do amanhã que se avizinha...
Mil vezes busco o ânimo e, no entanto,
encontro a solidão — feroz rainha!
O que fazer agora? Verto o pranto
e sempre forço o riso na entrelinha,
incômodo que aflige e, por enquanto,
nesse dilema, a vida desalinha...
Necessito alcançar o céu bendito,
extinguir a incerteza do infinito,
mas a mente fomenta um medo eterno!...
Enfrento o nevoeiro e, nele, sumo...
Por isso, sinto os passos sem aprumo
e tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Janete Sales
QUIXOTESCAMENTE…
De meu estado incerto, ou *choro ou canto …
Mas teimo em projetar um novo atalho:
mesmice engessa tudo, e um ato falho
provoca descontrole — um caos e tanto!
Pois contra o olhar maldoso, qual quebranto,
o meu escudo é mais que um quebra-galho:
vibrante, canto um choro , assim me valho
do dito popular (se canto, espanto…)
Tal arte me concede um arabesco,
que atiça o pensamento quixotesco —
o vento, em meu moinho, alço e governo…
Manobro e sei blindar o sentimento —
diante do infortúnio, arrisco, invento…
E tremo em pleno estio e ardo no inverno
Elvira Drummond
TORTURA DE AMOR
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Por esse sentimento que avalio
Tão cheio de ternura e de um vazio...
Repleto de magia e desencanto!
Quem dera, cada gota do meu pranto,
Furtiva dor, deságue feito um rio,
E em teu olhar, embora que tardio,
Faça enxergar o amor que a ti garanto!
Oh, chaga que me rasga o peito rude,
No estado de torpor, sem atitude,
Que amargurado exprimo e aqui externo
Possa tocar profundo em tua alma!...
Porquanto nessa espera a dor se espalma,
"E tremo em pleno estio e ardo no inverno".
Aila Brito
DESAFIOS
De meu estado incerto, ou choro ou canto.
Se canto vejo o fim da nostalgia
e nova expectativa a mente cria,
e a alma dilacera todo espanto!
Mas se fraquejo, tudo é desencanto,
meus passos falham quanto ao que eu queria,
o céu cinzento oculta a estrela guia.
Sair desse deserto não garanto!
Perdida, tão sozinha, inconformada...
No dia a dia um tanto enclausurada...
É necessário, enfim, matar o inferno!
Um dia nada mais irá doer,
mas hoje ainda vivo a padecer,
e tremo em pleno estio e ardo no inverno!
Marlene Reis
CONTRASTES
Do meu estado incerto ou choro ou canto
Em teses que vagueiam pensamentos
E fazem dos meus sonhos mais tormentos,
Carrascos que alucinam meu espanto.
Eu peno enquanto estou em acalanto
E alegro-me ao sentir os meus lamentos,
As fases dos sadios sofrimentos
Que eu sinto e homenageio com meu pranto.
Contrastes tão presentes no presente,
São flores que perfumam minha vida
E exalam nestes versos onde externo
A dor do meu prazer inconsequente
Que expresso ao dar adeus à despedida
E tremo em pleno estio e ardo no inverno
Plácido Amaral
DOR VERSUS AMOR (Soneto em Diagonal)
-
[D]-e meu estado incerto, ou choro, ou canto
ora s-[O]-u fogo que arde e ganha cor;
ora sabo-[R]- de puro mel, porquanto
zangão pro-[V]-oca fel que espelha a dor.
-
Sinal de alerta ch-[E]-ga em vão, no entanto,
indício da alma faz-[R]-ever fervor...
Mestre da paz refaz-[S]-entido pranto,
razão defensa explica-[U]-fano ardor.
-
A morte pede fé na vela ace[S]a
(Na intimidade sei do meu defeito...)
A vida humana é caix-[A]-de surpresa.
-
Somente amor divino, em su-[M]a, é eterno!
Meu ser amado quer um par perfeit-[O]...
E tremo em pleno estio e ardo no inve-[R]-no.
Sílvia Araújo Motta
MINHA INCONSTÂNCIA
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Ou deixo extravasar-me de alegria,
Ou fecho-me em total melancolia,
Mudando, de repente, tanto, tanto,
Que, às vezes, entre a festa sou espanto,
E do ser inquieto, uma harmonia,
E vou do sonho intenso, à distopia,
E de um momento alegre, viro pranto...
Como se a vida, em mim, a todo instante,
Entrasse a duelar co’ o mundo externo,
De forma a me tornar tão inconstante,
Que na fragilidade, o meu inferno
Ora se mostra perto, ora distante...
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Isaías Ramalho da Silva
DAS INCERTEZAS
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Alterno sentimentos controversos.
E a hesitação expresso nestes versos,
Manhã de riso e noite inteira em pranto.
O amor me leva aos mundos mais diversos,
Ingênuo sou de amar assim, sem tanto,
Pois meu querer é puro desencanto,
Meus sonhos todos num vazio imersos.
De ti, certeza, ao menos, ter pudesse
Da aceitação ou da total repulsa,
Não tendo o Céu, aceitaria o Inferno.
Oh! Deusa minha, escuta minha prece!
Por ti meu peito, em gelo e fogo pulsa,
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Fernando Belino
DEVANEIO
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Buscando um pranto lá no meu passado,
De minha história triste ao vosso lado,
Por não vos ter inteiro, herege ou santo.
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
Inflando o peito em tom maior um brado
De meu presente alegre transmutado,
Por ter sentido ao menos vosso encanto.
Se choro ou canto, sou aquele incerto
Humano ser que o vosso riso fez
Nascer daquele instante, grã-mudez...
Deixando em mim loucura vossa, e aberto
O outono vivo, em primavera hiberno
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Márcio Adriano Moraes