MEUS GATASMAS
MEUS GATASMAS I – 21 MAR 21
Vejo três gatos no meu peitoril.
Saphira é a mais velha e vinte e nove
gatinhos trouxe ao mundo e mal se move,
decerto espera ainda mais uns mil.
Arthur, sem dúvida, dos três é o mais gentil
que vi em toda a vida – é uma pena
que o tenham castrado e que serena
esteja agora a força sua viril.
Jade é a menor, com seu pelo castanho;
são persas todos três e me acompanham,
embora eu nunca fosse um eorulófilo;
algum motivo há que acho estranho,
a mim escolhem e se esfregam e arreganham,
por mais que eu seja muito mais cinófilo... (*)
(*) Eorulos = gato; kinos = cão (em grego).
MEUS GATASMAS II
São gatinhos fantasma, infelizmente,
pois já morreram todos, um por um;
de Jade guardo recordar quase nenhum,
Saphira mais em minha memória persistente;
mas de Arthur Pendragon mais frequente,
em mais de década raro dia houve algum
que não dormisse seu sono tão comum
no chão deste escritório, bem contente.
Sem dúvida, eu fui o seu escravo de confiança...
Quantas vezes, no final da madrugada
eu levantei para distribuir rações,
em suas tigelas a assistir lambança,
uma a uma depois sendo guardada:
sob os canteiros ajudam hoje as florações.
MEUS GATASMAS III
Gatos vivem bem menos que os humanos.
Depois veio Penélope, não mais persa,
sua substância sendo já dispersa,
enquanto Arthur persistia vários anos.
Foi Shih-tzu, chinesa em seus afanos,
com minha esposa sempre a miar conversa,
até também tornar-se à vida aversa;
hoje só temos Gremlin, forte e sem danos...
Mas a cada vez que brilha a lua cheia
e olho para o alpendre ou o terraço,
lá estão os falecidos a me olhar,
em sua remota e tão bizarra veia,
são três gatos que não pedem mais abraços,
mas se contentam em deixar-se contemplar.