SATISFAÇÃO &+
Satisfação 1 – 6 Agosto 2020
Nada tenho hoje a dizer, que estou vazio,
Tal qual que te afirmaste dias atrás;
O mês de Agosto prazer algum me traz
E nem ao menos eu sinto o mesmo frio
Que em mim se torna em entusiasmo e brio
E de costume até bastante satisfaz:
Sem a pressão do calor alcanço a paz
E os outros vejo a tremer em calafrio...
E então vejo os emails a me chegar,
Sem me trazerem qualquer satisfação
Qual uma linha tua apenas me traria.
Mesmo que fosse para me avisar
Do definitivo final da relação,
Sempre as palavras tuas beijaria...
Satisfação 2
Diferença não faria se escrevesses
Cruéis frases ou só desagradáveis,
Devoraria até as mais execráveis,
Por constatar que de mim ainda tivesses
Recordado nesse instante e que me odiasses,
Pelos motivos em mim mais censuráveis
Ou por caprichos totalmente dispensáveis,
Mas que nesse momento em mim pensasses,
Igual que penso em ti a cada instante
De minha vida, sem ao menos intervalos
Entre parágrafos de minhas traduções;
E nem compreendo como seja delirante
Meu turbilhão de sentimentos, sem achá-los
No mesmo fardo das tuas emoções.
Satisfação 3
Pois a mera lembrança da lembrança,
Momentânea que fosse no teu peito,
Demonstraria estivesse ainda sujeito
Ao mesmo vago sonho de esperança;
Eu bem percebo ser coisa de criança,
Que sobre ti já perdi todo o direito,
Na plena compreensão de meu mal-feito
E no entanto, como dói essa esquivança!
Se ao menos escrevesses, sob o esterno,
Meu coração bateria mais depressa,
Triste e feliz no mesmo sentimento
De quão veloz já se esgotou o eterno,
Mas que o desdém de acarinhar não cessa,
Melhor a ser que o descontentamento.
CRISTAS DE CRISTAL I – 7 AGO 20
QUEM ME VERÁ NO DESPERTAR DA AURORA,
JAZENDO AQUI EM MEU LEITO SOLITÁRIO,
A TUA LEMBRANÇA MEU ÚNICO SACRÁRIO,
PRAZER SENTINDO ATÉ MESMO EM TUA DEMORA?
ELA ME LEMBRA DE TUA AUSÊNCIA A CADA HORA,
ATÉ O DIREITO SE TORNAR CONSUETUDINÁRIO;
BELA INVERSÃO DO QUE ESPERAVA SER CONTRÁRIO,
QUE ME LEMBRASSE TUA PRESENÇA EM MEU OUTRORA.
CONTEMPLO OS RAIOS DO SOL, TIMIDAMENTE
A RASGAR DE MEU TOLDO OS ORIFÍCIOS,
PROVOCADOS EM FUROR PELA SARAIVA,
ENQUANTO AS POMBAS, FERVOROSAMENTE,
PIPILAM A AFIRMAR SEUS BRANDOS VÍCIOS,
UMAS ÀS OUTRAS A SE BICAR COM RAIVA!
CRISTAS DE CRISTAL II
QUEM ME VERÁ AO DESPERTAR DO AR,
NO SEPARAR DE MINHAS VENEZIANAS,
SEM MAIS VIDRAÇAS A SE LANÇAR EM GANAS,
PORQUE ANTES AS ABRI DE PAR EM PAR?
TALVEZ ATÉ UM DESALENTO VÁ ENCONTRAR,
PREPARADO QUE ESTAVA E SÓ OS PIJAMAS
CONSIGA FARFALHAR EM SEUS PROCLAMAS
SOBRE ESSE ESPAÇO QUE ACABOU DE CONQUISTAR.
CONTRA AS PAREDES ESSE AR SE EMBATE,
O AR QUENTE DO INTERIOR BUSCA SAIR,
O AR FRIO DE FORA BUSCANDO PENETRAR,
ANTES QUE O SONHO DO PEITO SE DESATE,
TODA A LEMBRANÇA DEPRESSA A ME FLUIR,
ENQUANTO A MÁGOA INSISTE EM SE ALOJAR...
CRISTAS DE CRISTAL III
QUEM ME VERÁ, NO DESPERTAR DO VENTO?
NÃO SEI MAIS QUEM ESPERO, NEM SE ESPERO.
REDUZ-SE A BRISA A UM ESTERTOR DE ZERO,
JÁ LIMITADA A UM DESESPERO LENTO...
MAS NÃO SOU EU QUE ME ENTREGO AO DESALENTO:
PÁLIDO É O VENTO, NÃO ME ENVOLVO COM O MERO
DESEJO ENCARQUILHADO, O TURBILHÃO AUSTERO
A CONTEMPLAR, INDIFERENTE, EM CATAVENTO...
PELA CRISTA DE CRISTAL, SEM QUE VIESSE,
MIL VEZES ESPEREI, SÓ CHEGOU-ME A CLARA VELA
QUE ALIMENTA MEU DESEJO EM FRÁGIL LUZ
E NEM POR ELA RECORDO DE UMA PRECE;
LÁ NO ALTO AINDA CONTEMPLO MANSA ESTRELA,
PORQUE O VENTO NADA TRAZ QUE ME SEDUZ.
A BABA DAS MÉDIUNS 1 – 8 AGO 20
Que me perdoem meus leitores kardecistas,
Em nada pretendo ofender suas crenças,
Só me refiro a tais mentiras tensas,
Que pelo século dezenove eram tão vistas.
As falsas médiuns lançavam muitas pistas
Dos espíritos “de luz” em suas presenças,
Tantos truques e ardis nessas ofensas,
Que de creres no imortal até desistas!
E enganavam até gente inteligente,
Tal como Victor Hugo, o romancista,
Ou Arthur Conan Doyle, o do Sherlock,
Estalos provocando na escuridão tremenda,
Um ímã sob a mesa em que se assente
Da Tábua Ouija o movimento do berloque!..
A BABA DAS MÉDIUNS 2
E havia ainda o artifício mais nojento,
Que era dito ser o “Ectoplasma”,
Uma espécie fantasmal de protoplasma
Que os espíritos cuspiam em tal momento;
Uma baba de gorgolejo fedorento,
Que engasgava um consulente em asma
E qualquer mesmerizado então se pasma
Ante um sinal assim tão evidente!...
E tal modismo encontrou correspondente
Nesses mágicos de palco mais argutos,
Em sugestão hipnótica ou apelando
Para o instinto de rebanho subjacente,
Que levava tantos humanos impolutos
Ao engano voluntário se entregando!
A BABA DAS MÉDIUNS 3
Naturalmente, muitos desmascarados,
(Mas sempre havia um outro mais potente!)
Que de algum modo convencia a gente,
Pois até mesmo nos tempos mais chegados,
De David Copperfield truques elaborados
Faziam desaparecer completamente
Prédios inteiros sob o olhar ardente
Dos mais céticos que estavam congregados.
O que Allan Kardec finalmente faz,
Após ele mesmo a alguns desmascarar,
Foi demonstrar a existência do além-morte;
Talvez apenas o corpo astral nos traz,
Da vida material tudo ainda a recordar,
Embora o espírito prossiga arcana sorte.