FENÓTIPO

FENÓTIPO I (30 JUL 79)

(Para Daphne e Silvie; Sharon e Morgana)

Que a luz do sol na pele de minhas filhas

Refulja sempre como assim refulge...

Que esse prazer paterno que me indulge

Seja qual vinho aprisionado em bilhas

De argila pura ou de odres redolentes,

Nesse flutuar sutil, gracioso e puro,

A desviar do meu olhar tão duro

Visões amargas de enxergar frequentes...

Quero que a pele seja assim translúcida,

Macia e clara, a meu tocar pelúcida,

Para que lembre um toque de açucena...

E os olhares sempre frescos e tranquilos,

Na mesma terracota dos mamilos,

Em seu torpor-perfume de verbena...

FENÓTIPO II (9/5/2010)

Já cresceram, as que foram minhas meninas:

Já têm mais de trinta anos, cada uma;

Netos ainda não me deu nenhuma,

As duas seguem longe as próprias sinas...

Nasceram duas mais, após a escrita

Desse soneto, há mais de trinta anos:

Os gestos do destino são arcanos,

Mas cada uma é para mim bendita...

Algumas vejo muito raramente

E uma das primeiras nem me quer:

Casou-se e em outro estado tem sua lida...

A outra vem-me ver, regularmente,

Todos os anos, essa gentil mulher,

Em suas férias reingressa na minha vida.

FENÓTIPO III

Ainda conservam o mesmo fenótipo

minhas quatro meninas e dois rapazes,

tornados homens fortes e capazes,

os dois já transmitiram meu genótipo.

Desses seis filhos, tenho quatro netos,

(A situação de meus pais é até pior:

nove netos tiveram, orgulho e ardor

e, por enquanto, só têm quatro bisnetos...)

que ainda guardam tal pele translúcida,

macia e clara, ao meu tocar pelúcida:

sabe-se lá se me transmitirão...

Que tenham olhos frescos e tranquilos

e os reproduzam em seus próprios filhos,

para o consolo de meu coração...