VOZES MUDAS &+
VOZES MUDAS I – 9 DEZ 19
outra noite esperei: noite tão Fria,
quente por fora, fria de Minhalma,
serena e cristalina em lenta Calma,
fria de som e de emoção Vazia.
outra noite esperei: cruel a Caloria,
tanto desejo em mim que não se Acalma,
na testa sem sentir a fresca Palma,
que teu calor recente Aliviaria...
tépida apenas de um calor Antigo,
morna em lembrança, quente do Perigo
que teu olhar no meu Depositou...
morna de aroma e quente de Rocio,
meu coração gelado e já sem Brio
que em manso ardor teu coração Acalentou...
VOZES MUDAS II
outra noite esperei: sabor tão Quente,
nas têmporas o ardor, quente o Desejo,
quente de ti, ausente de teu Beijo,
tão virginal de teu calor Recente...
outra noite esperei: feita Impotente,
passada a chance fortuita de um Ensejo,
no luscofusco em calidez de teu Adejo,
na muda lenga-lenga tão Frequente...
minha voz te busca sem soltar um Som,
tua voz me busca em perenal Ausência,
cem mil vozes ao entorno a Tripudiar...
enquanto o coração, em rubro Tom,
contempla a calma dessa Impermanência,
na agitação que precede o Desmaiar...
VOZES MUDAS III
espera a noite por novel Espera,
novel a noite da ausente Calidez,
cálida a noite que meu frio Desfez,
desfeita a espera em cristalina Esfera,
cristal de esfera que no peito Gera
despeito em luz de pura Torpidez,
torpe essa luz se nessa luz não Crês,
crença apagada nessa noite Mera,
mera essa noite de vozes Apagadas,
apaga a voz que não podia Soar,
som de mudez a alma a Atravessar,
nessa travessa das sombras Apressadas,
na pressa e medo de que termine a Noite,
a noite morna de todo o meu Tresnoite.
SALTO MORTAL I – 10 DEZ 19
(para M. P.)
Muito já foi escrito sobre os gatos.
Apesar de peludos, sentem frio:
Algumas vezes, mesmo em pleno estio,
Se escondem eles num par de sapatos...
Na frialdade desses seus contatos,
Exigem tudo, no indiferente brio,
Agradecendo com seu altivo mio,
Mais raramente a torturar os ratos
São animais espertos, os felinos:
Recusam aceitar o treinamento,
Em troca de carinho e até de açoite,
Pois sabem lhes darão seu alimento
Pelos "saltos de veludo" peregrinos,
Assim alçados "para o meio da noite"...
SALTO MORTAL II
Domaram as mulheres, os bichanos,
E nada dão em troca da comida,
Do afeto, do repouso e da acolhida
Que sempre receberam dos humanos,
Com olhos de nenês, truques arcanos,
No colo exigem toda a atenção devida,
Nutrida apenas por formosura havida,
Sinuosos passos que não causam danos,
E assim requerem como seu direito,
Diariamente, um preito de obediência
E se possível, até mesmo reverência,
No hipnotismo do feminino peito,
Sem que de fato amor demonstre um gato,
Salvo talvez pelo alimento no seu prato!...
SALTO MORTAL III
Eu não lhes nutro particular predileção
E mesmo os olho com certa desconfiança,
Embora, às vezes, até aceite essa aliança
Com algum que me desperte estimação;
Não que eu espere lealdade em ocasião,
Pois só se achegam quando têm lembrança
De estar na hora de sua comilança
E então se esfregam a exigir minha atenção.
Honestamente, isso não me agrada,
Especialmente se chuva eles pegaram
E minhas pernas como toalha empregam
E no momento da estar fome aplacada,
Sem um miado de adeus já me descartaram,
Claro deixando o respeito que me negam!
FIO I – 15 AGO 79 (Revisitado 11 DEZ 2019)
Que raiva eu tenho desse telefone!
A toda hora toca e me interrompe,
Meus sonhos quebra, o devaneio rompe
E meu trabalho obriga que abandone.
Ou quando durmo, impede que ressone,
Seu tilintar sinistro então irrompe,
Como um clarim a proclamar-se pompe,
Meu coração num susto que se adone!...
Quando eu quisera a outrem contactar,
O fone faz-se mudo, num zombar,
Solerte de ardiloso, que me irrita!...
E se de alguém a voz quero escutar,
O telefone insiste em se calar
E, silencioso, o coração me agita...
FIO II
Às vezes, de permeio à madrugada,
Vozes retinem, em vezo de pirraça,
Outras de dia, perfuram como traça,
Meu tempo apeneirando em quase nada.
Essa gente que liga, eu sei, coitada!
Tem o pior emprego desta praça,
Suas ofertas se perdem em fumaça,
Tanta gente a responder mal-humorada!
Mas é uma época de grande desemprego,
Por mais que afirme o contrário o governante,
Tantas vagas a afirmar serem abertas!
E se conformam, mesmo em desassosego,
São vagas de Dezembro, neste instante:
Passado o ano, demissões serão bem certas!
FIO III
Já transcorridos mais de quarenta anos,
Venho encontrar este soneto rascunhado,
Infelizmente, sem haver nada mudado,
Pois conservamos os mesmos desenganos;
Por mais pareçam dias ser arcanos,
Meu eu de ontem aqui ressuscitado
Em pouco ou nada se acha transformado
Eu sou eu mesmo e guardo iguais afanos...
Muitas vezes já pensei terem morrido
Vários de mim, cessada a atividade
Que lá no antanho me prendera tanto!
E então deparo com um verso já esquecido,
Sem diferença do que sou na atualidade,
Salvo se olhar para a secura de meu pranto.
FIO IV
Honestamente, foi um soneto pueril,
Embora então já suas regras dominasse,
Métrica, rima e ritmo alcançasse
E das cesuras conhecesse bem o ardil...
Já o telefone poderia estar senil,
A me forçar que um celular comprasse,
Mas até hoje não deixei me dominasse
Essa voz do Big Brother senhoril!...
E com frequência, nem sequer atendo,
Salvo se aguardo individual mensagem,
Ou quando acordo em terror na madrugada,
Esperando sem querer, mas com coragem
Ouvir notícia de um amor de que dependo
Estar sofrendo de moléstia inesperada!...
TRUST
no more relationship... said She,
you know my head a Mess has always been,
but now that my Route I have seen,
I shall decide myself Which will Be
my Future all along the days to come,
advice is hurtful, don't care to change,
stop running me, I want to range
my errors and mistakes... and then some.
how easy it is for You to turn against,
after having been led by so many,
the only one that You've found amongst
to give You all and never ask for any.
perhaps knowing that, in needing a Share,
the others will Deny, but he will be there.