ZUMBIS &+
ZUMBIS I – 6 SET 19
quando me deixo envolver em devaneiO,
recordo olhos, cabelos, dedos finoS,
risos de prata, crisóis em desatinoS,
com o antimônio dos seios de permeiO.
recordo situações que nunca foraM,
hálitos breves, que poderiam ter sidO
casos de amor feroz e desabridO...
mas tantas cenas más que me devoraM
nada mais são que sombras sem valiA.
e estas lembranças que me vêm no sonhO
são arquivos que envolveu a sorte ingratA,
numa defunta e social hieraquiA.
e assim me deixo envolver pelo medonhO
palor suave de antimônio e pratA...
ZUMBIS II
mais de uma vez já mencionei em versoS
que meus sonhos são tão ou mesmo maiS
reais que a massa de ocorrências naturaiS
com que deparam meus olhos em perversoS
encontros diários contra mim dispersoS,
sem meu controle até dos mais fataiS,
enquanto em oniresias sideraiS,
sei quanto passa de meus ideais conversoS;
sem dúvida, pela mente me perpassaM
fisionomias iguais às de outros sonhoS,
cujos semblantes saúdam-me risonhoS,
enquanto nestes dias que aqui passaM,
há tanta gente a me olhar de cara feiA,
quase concreto o rancor que se permeiA!
ZUMBIS III
não admira que ame mais o devaneiO
ou meus estados de hipnagogiA,
em que forma toma e coalesce a nostalgiA
e tão somente amor me mostra o seiO;
e francamente, essas amantes de permeiO,
que me recebem com abraços de alegriA,
são mais reais do que se preveriA,
têm cheiro, gosto, cor e real meneiO.
e certas coisas que acontecem me surpreendeM,
por atributos de materialidadE:
ontem mesmo, ouvi um copo se quebraR
seus fragmentos dedos de sonho prendeM
e sinto o corte, embora o copo de verdadE
encontre inteiro no armário a me esperaR!...
sensatez I – 7 set 2019
eu não te trocarei tão facilmente
por qualquer outra; teria sobretudo
de ser igual a ti ou mais inteligente,
pois com física beleza eu não me iludo;
tal formosura passa incontinenti,
enquanto a mente pode, pelo estudo,
aumentar sua beleza permanente,
enchendo o cérebro de novo conteúdo;
pois de mulher eu quero mais frequente
que me possa falar numa linguagem
que seja a minha, portanto, que me entenda;
e dê valor ao meu valor presente:
que me seja gentil e me compreenda,
sem ser somente um corpo de passagem...
sensatez II
na verdade, prefiro mesmo conversar
com mulheres que com homens. há motivo,
suas conversas tem limitado crivo:
vacas, mulheres, futebol, politicar...
temas de fato que não vão me interessar;
nem sequer em comer carne sou ativo,
amo mulheres, mas sou bastante esquivo
ante as conquistas de que se vêm gabar,
na maior parte das quais nem acredito...
e o futebol nunca jamais me deu prazer
para jogar e muito menos para ver...
quanto à política, tão só me deixa aflito,
que minha tendência é ser parlamentarista
e é subversivo afirmar ser monarquista!
sensatez III
com as mulheres terei mais afinidade:
é bem verdade que não gosto de “cri-cri”,
contudo amei cada criança que já vi,
pois nelas vejo a beleza de verdade;
não que espere encontrar sinceridade:
conheço bem este jogo que vivi,
cada mulher sempre guarda para si
os seus segredos ou mesmo, por vaidade,
inventa alguns para tornar-se interessante;
mas quanto à música e à literatura,
ou à poesia que tanto me contenta,
são as mulheres mais sensíveis nesse instante
em que o assunto refere-se à cultura
e a conversa ao que prefiro alenta...
sensatez IV
não obstante, um problema encontro aqui:
têm as mulheres tendência a competir
umas com as outras, sendo prestes a assumir
a moda atual, qual tão frequente eu vi.
em ti, porém, desde o início pressenti
não te deixares por tais coisas iludir,
esses modismos bem saber percutir,
permanecendo fiel somente a ti.
também por isso, não desejo outra mulher,
desde o momento em que no peito me acolheste,
sei te pertenço real e integralmente;
e nem ao menos se perdeu, sequer,
essa beleza com que amor tanto me deste
e na qual ainda me acolhes permanente...
NEVRALGIA I – 8 SET 2019
Segurei um projeto que esperneava,
Na palma de minha mão o sopesei:
Era um projeto de amor, mas não lhe dei
Correta avaliação, porque marcava
Vaga esperança que se desalinhava
Com os demais projetos que guardei;
Assim, a tal amor não me entreguei:
Mesquinhamente, num gesto o desprezava!.
Embora a tal amor, inicialmente,
Tivesse dado atenção subjacente,
Nunca foi mais que uma emoção discreta.
Joguei-o fora, por pura distração,
No abstrato saber do coração,
Que amor é vago, mas dor é bem concreta!
NEVRALGIA II
Ora, projetos de amor surgem frequentes,
Toda mente é promíscua e bem curiosa:
Qualquer figura que nos surja mais formosa
Provoca impulsos bastante impertinentes...
Ou será que nos assaltam de outras mentes,
Não sendo a nossa assim tão ambiciosa,
Mas recebendo uma influência poderosa
Que nos invade pelos olhos indolentes...?
Mas não é mais que impulso transitório,
Que nos obriga apenas a sorrir,
Como um gosto imaginado a seduzir
Nossas papilas gustativas no ilusório,
Sem que após ele alguém possa se iludir,
Perfume apenas de um vasto repertório...
NEVRALGIA III
Hoje outra ideia pela mente me perpassa:
De onde se pôde tal projeto originar?
Certamente não se estava a balançar
Pelos ares de uma rua ou de uma praça...
Porém se surge a cada vez que se ultrapassa
Qualquer bela mulher a nos olhar,
Ou que pretende indiferença no avaliar,
Ou de fato em nós não vê a menor graça...
Suspeito, então, que de forma até inconsciente
Ela projete a seu redor a sedução,
Tal qual o pólen que emite alguma flor,
Algum grão de sutil, algo de ardente,
Até que atraia para seu próprio coração
O verdadeiro alvo a que projeta seu calor...
INARTRITE I – 9 set 19
Ela foi, afinal, diagnosticada
da mesma afecção que a incomodava
desde menina, em leve desatino,
que lhe extraía o ânimo e a libido:
Uma moléstia sutil, que tinha herdada,
insidiosa e gentil a dominava,
músculo a músculo, a desafiar-lhe o tino,
sem que o prazer da vida, concedido
pela saúde lhe houvera revelado...
Foi um penar de antanho, espiralado
pendor que aos ossos reflexão empresta.
E o mau humor que tanto me afligia
nada mais era que fibromialgia
a encher sua alma de uma dor funesta...
INARTRITE II
Sempre me disse ser integridade,
sem o corpo separar do que se chama
de alma, isso que a mente nos recama
de sentimentos de bem ou de maldade.
Algumas vezes, em momentos de bondade,
explicou-me a intermitência dessa flama,
que à elegia ou ao rancor conclama,
nas mil instâncias da transitoriedade,
não sendo só um capricho o mau humor,
nem que estivesse voltado contra mim,
somente a dor que a influenciava assim,
dor corporal ao invés de dor de amor
e muitas vezes me pediu qualquer massagem,
que tal carinho restaurasse a sua coragem...
INARTRITE III
Mas diagnósticos vêm e depois vão,
cada médico em algo é especialista
empós tal formação percorre a pista,
sempre as suspeitas para ali dirigirão...
Já outro médico pode expor outra opinião,
que mais não seja que com ela desassista
a pretensão do colega, feia crista
de um orgulho profissional no coração...
Mas eu só sei, que opiniões embora,
em mim conservo firme a convicção
que meu destino está ligdo ao dela
e desse modo, a toda e qualquer hora
demonstrarei de meu amor a compaixão,
no consolar das dores de minha bela...
DESVENTURA I – 10 SET 19
POIS ME TOMOU DE ASSALTO, DE REPENTE,
NUM LAIVO REDOLENTE E SEM MALÍCIA,
O OLHAR A RELUZIR DE IMPUDICÍCIA,
PORÉM, NO FUNDO, APENAS INOCENTE.
NÃO FOI MAIS QUE UMA NOITE DE PERFUME,
QUE ME EXPLODIU NO ROSTO, UM SORTILÉGIO,
FEITIÇARIA, QUEM SABE?... UM SACRILÉGIO
QUE SÓ DEIXOU-ME RESSAIBO DE AZEDUME
E SOU FORÇADO ASSIM A CONSTATAR
QUE MINHA ÂNSIA SE FOI... ABANDONOU-ME,
DE TANTO AMOR JÁ SE ESPARZIU A CARGA;
RECORDO APENAS AQUELA PECULIAR
INALAÇÃO QUE ENTÃO SOBREPUJOU-ME,
EM GOTAS SECAS DE DOÇURA AMARGA.
DESVENTURA II
ESSAS COISAS ACONTECEM DIARIAMENTE,
NO VESPERTINO MOMENTO DAS PAIXÕES,
NO DIUTURNO FLUIR DAS ILUSÕES,
NO QUOTIDIANO ABRAÇO DO INCLEMENTE,
QUANDO A EMOÇÃO NOS GOVERNA, INDIFERENTE
A QUAISQUER CONSEQUÊNCIAS DAS AÇÕES,
CADA DIA TEM SUAS PRÓPRIAS PREDAÇÕES
E ENTÃO SE ACEITA O QUE NOS CHEGA, NUM REPENTE!
POSTAS DE LADO QUAISQUER PONDERAÇÕES
DO SUPEREGO OU DO QUE CHAMAM DE CONSCIÊNCIA
E ENTÃO SE EMBARCA TOTAL NESSE PRAZER,
JÁ USUFRUÍDO POR TANTAS GERAÇÕES,
PARA A SEGUIR, DILUÍDA ESSA INFLUÊNCIA,
RESTAR VAZIA, EM NOSSAS MÃOS SEM SE DETER...
DESVENTURA III
MAS É ASSIM QUE FOMOS CONSTITUÍDOS,
A SOCIEDADE NOS IMPÕE OS SEUS PADRÕES,
MUITO POUCOS A SEGUIR-LHE IMPOSIÇÕES,
PELAS PRÓPRIAS INFRAÇÕES SENDO NUTRIDOS
E QUANTA VEZ NOS SENTIMOS MALQUERIDOS
APÓS O APEGO DESSAS TENTAÇÕES,
QUANDO ATINGIDAS, NADA MAIS REPÕES
NESSAS QUIMERAS DOS PASSOS PERCORRIDOS.
E COMO DÓI EM NÓS ESSE CONTRASTE!
TANTO DESEJO O PEITO NOS PREMIA
E DE REPENTE, ERAM SÓ BOLHAS DE SABÃO,
QUE SE REBENTAM TÃO SÓ O BEM SE AFASTE,
NEM A PELÍCULA NOS RESTA, QUE SERVIA
DE FRACA MÁSCARA PARA TAL DESILUSÃO!