SANTELMO / DELÍQUIO / ANTILODIA / REALEZA / SUBITAMENTE

SANTELMO I – 29 julho 2019

não é um ser mortal: surge por Mágica

e então desaparece, num Instante...

quando menos espero, a Itinerante

face retorna, como numa Trágica

revelação de um rosto no Nevoeiro,

para esfazer depois, um leve Toque

é quanto basta para que se Evoque

a fantasia do sonho Derradeiro...

que não se realiza, nem Jamais

se tornará concreto, tal se Fosse

apenas nuvem de luz, um Ouropel

feito de sombras, abortos Imortais,

um som tangível, como então me Trouxe

a imagem seca de uma flor de Fel.

SANTELMO II

o fogo de santelmo se Avistava,

luz azul de brilhar Intermitente,

um fogo fátuo de esplendor Fosforescente,

quando um arpão ou lança se Elevava;

mais comumente então se Apresentava

no mastro do navio mais Eminente

ou sobre um ramo projetado à Frente,

onde prender uma vela que Ajudava

a navegar contra o poder do Vento,

numa impressão assaz Miraculosa,

assombrando os antigos Baleeiros

em seus botes rasos, um Portento

que lhes causava sensação Supesticiosa,

como se fosse engolfar o seu Veleiro.

SANTELMO III

e nos meus sonhos contemplo certa Face,

que retorna com frequência para Mim,

o mesmo rosto que me encanta Assim,

quer me encha de alegria ou me Desgrace.

de quem tal rosto que para mim Perpasse

e que só vejo dos sonhos no Outrossim;

nunca recordo, de meu sono ao Fim,

quais as feições que tanto Admirasse.

como o santelmo é o rosto Revelado:

durante os sonhos sempre Fosforesce,

mas nunca o vi após meu Despertar,

nem em tevê ou filme foi Mostrado...

quem é essa mulher que me Aparece

e tanta noite volta a me Assombrar?

ANTILODIA I – 30 jul 19 (*)

caminho sobre o sonho, a sombra fina

dessa mulher com laivos de menina

que minha vida invadiu, tão de repente,

que me tomou de assalto e me fascina

a cada vez que julgo liberado

este meu peito tão atribulado

pelo feitiço da sedução potente

espargida por ela, sempre que a meu lado

caminha resoluta pela vida,

a tudo decidida e a quase nada,

sem ousar desejar trazer bem perto

aquele que à tristeza deu guarida

e a devolveu à vida, renovada

a decidir por si mesma o rumo certo...

(*) Jogo de palavras com “Antilogia” = Contrdição.

ANTILODIA II

ali ela se encontra, permanente,

a espreitar cada sonho que concebo

(ou em que sou concebido), um dedo

que me arrepia o dorso em frio e quente;

algumas vezes se apresenta ardente,

em outras seu odor apenas bebo,

mas o roteiro envia-me em segredo,

a concordar ou contrariar-me indiferente

os desejos que concebo em tal quimera,

às vezes triste, às vezes na alegria,

às vezes sombra tão só que me atravessa

ou comoção em mim tão vasta gera,

nessa mescla de orgasmo e nostalgia

que a cada noite me arrebata e nunca cessa!

ANTILODIA III

mais que contradição, para mim é antilodia,

contrária ao dia, à noite só presente,

embora a luz do sonho mais potente

que essa luz que o sol derramaria

ou qualquer coisa que a mente concebia

de raio elétrico ou invenção recente

e de igual modo, sua luz brilha clemente,

se por acaso sesteio à luz do dia.

o dicionário só me traz “antilogia”,

mas sua presença é muito mais real

do que qualquer imagem que observe

e se nos sonhos, então, me contraria

e me conduz à fantasia sideral,

eu só desejo que tal deia se conserve...

ANTILODIA IV

sempre encontrei essa contradição:

são os sonhos um fulgor da antirrazão,

um reluzir do rubror do coração

ou então se ingressa em diferente mundo?

e quando ocorre coincidir rotundo

entre esse sonho que sonho, vagabundo

e algum sonho, no adormentar profundo

de outra pessoa em total conotação?

ai, bem queria que a fada ainda encontrasse,

nas vastidões de mil sonhos ao léu,

porém sonhados com olhar desperto

e que essa face, de súbito, mostrasse

igual surpresa ao divisar no meu

o mesmo rosto em seus sonhos descoberto!

DELÍQUIO I – 31 jul 2019

Como eu invejo esses olhos que te veem!...

Muito mais do que os meus te contemplar

Conseguem, pois bem sabes que não têm

Uma ocasião qualquer de te encontrar...

Mais que uma vez por mês, tão curto bem

Tal qual se os dois em dois países a habitar,

Longos caminhos a seguir em vaivém,

Até poder um corpo ao outro se abraçar...

Escasso tempo, enquanto, à tua passagem,

Tantos olhos te seguem, qual miragem

Que se desfruta ao mais casual ensejo...

Enquanto eu sinto qual usara antolhos,

Porque sabes tão bem que o meu desejo

É me enxergar no fundo de teus olhos!...

DELÍQUIO II

Em meu desmaio, eu sinto como fôra

Que cada imagem que outros têm de ti

Algo roubasse de teu corpo ali

Ou de teu rosto, algo levado embora,

Preso na mente dessa gente a fora,

Sem que de fato, tal como eu senti,

Fôra importante, só um relance aqui,

Mais outro adiante, olvidado nessa hora.

Porém que em tal instante não te veja

E não consiga essa imagem resguardar,

Que na minha mente seria sempiterna!...

E porque longe de ti então esteja,

Sem que de mim nada possas conservar,

Só a indiferente paisagem que se alterna!

DELÍQUIO III

Ai, gostaria, sabendo que é impossível,

Penetrar fundo nesses corações

E deles extrair tantas visões,

Que ali se guardam de forma perecível.

Sei bem que a grande parte é exaurivel,

Transitam apenas imagens nas razões,

Curta memória a manter das ocasiões

Em que te viram passar intransponível.

Mas queria que em tais figurações

Apenas eu te pudesse registrar

E teu semblante guardar como tesouro

E ao mesmo tempo perpetuar as ilusões

De que as minhas quisesses arquivar

Em pergaminhos revestidos de ouro...

REALEZA I – 1º agosto 2019

Porém, já repassados os meses, à porfia,

Sinto em minhalma ainda o mesmo que sentia

E inda te quero mais, pois deusa já não és

E a carne se aferventa na mesma altaneria.

Não creias no que dizem, que a carne agitaria

Apenas o desejo enquanto não teria

A carne submissa e embaixo de meus pés

E logo em satisfeita, então se afastaria...

Ao contrário, comigo, o não-ter é que me afasta:

O ter é um delirante almíscar que me empasta

De especiaria líquida e plena de ilusão...

Que por ser material, não deixa de sedosa

Flor revelar-se, em mágoa tão formosa,

Que a cada vez que esmaga, perfuma o coração.

REALEZA II

Pois me rebelo contra a objurgatória, (*)

Tendo certeza de querer-te ainda mais

Que nesses tempos perdidos no jamais,

Em que a recusa me feria peremptória,

Porque embora existisse em mim a glória

De te endeusar, sem afanos materiais,

O entronamento e adorar espirituais

Já se perderam em minha pregressa história

E do momento, enfim, que foste minha,

Mulher alguma me provocou desejo,

Na embriaguez do gosto de teu beijo,

Pelo delírio de possuir uma rainha

E assim jamais merecerei essa censura,

Tendo em meus braços tua presença pura!

(*) Censura áspera

REALEZA III

Assim em nada diluiu-se meu desejo,

Maior tornado, se possível fôra;

Tuas imagens armazeno, que entesoura

O escaninho mais fundo em cada ensejo.

És soberana, em torno a qual adejo,

Tão fiel e ansioso como o fui no outrora;

Talvez até mais amoroso seja agora,

Em que teu trono no meu peito vejo,

Mas que deixou de ser inacessível

E que posso desfrutar de tua presença,

Que de toda a vasta espera me compensa

E me parece que seja inexaurível

Esse espaço que se alarga no meu peito,

Que a ti somente conferirei direito.

SUBITAMENTE I – 2 ago 19

por certo não desejo, por certo foi certeza...

acometido fui de estranho sentimento,

mais garantia do que pressentimento

de que todos os caminhos da nobreza

para nós se abririam, sem demora:

que as portas seriam descerradas,

que as emoções se fariam reveladas

e as campânulas dobrariam nossa hora,

em que afinal, depois de longa espera,

em que o engano trocista me traía,

em que trilhaste largos descaminhos,

estaremos de novo nessa esfera

que em paz e afluência nos unia,

na permanente guirlanda dos carinhos...

SUBITAMENTE II

o pensamento, às vezes, tem razões

que desconhece totalmente o coração,

sem desprezar a frase áurea de então,

desse poeta que veneram multidões;

não que eu não tenha mil venerações

por blaise pascal, por mais irmãos

que perpetuaram idêntica noção,

a que demonstro tais oposições;

contudo, eu sei, ou talvez então sabia

que isso que expressei não foi desejo,

porém certeza completa que teu beijo

toda alegria do viver ampliaria

e desta forma, se me encontro de teu lado,

por teu amor sempre me dou por abençoado.

SUBITAMENTE III

mas reconheço ser em parte um sem-razão

esperar pela constância dessa esfera,

franqueada apenas depois de longa espera,

fragmentando assim meu coração,

porque a vida demonstrou ser só ilusão,

felicidade é certo que se altera,

essa certeza era no fundo uma quimera,

não raciocínio, um fragmento de emoção;

contudo, esse destino nos reuniu

e nosso amor ainda inteiro permanece,

mesmo nas vezes que de tristeza adoece,

quando esse olhar que no antanho seduziu,

por algum tempo não demonstra igual amor,

mas se ensimesma numa esfera sem calor.

SAPLING

It is no joke for all that it might seem

The image of your eyes on mine, a beam,

Never before a woman's gentle grin

Entered my mind thus and therein rooted down.

So strong and firmly, a girl as strange

That every string of my heart will range

And give me her weirdy ways on exchange

For all the numbness i had within me sown.

But never mine was, she hesitates,

She frets, she comes, then leaves me alone,

The oddest boundaries she then dictates

Yet she’s the first to break'em all of her own

Accord, for despite all that she oscillates

Inside her my roots are also fully-blown.

SPLICING

never the halves myth felt so real

as it feels for me as it does right now:

i'm half-skinned, it seems that, anyhow

all the front of my body, somehow

had been ripped: there's nothing to conceal

my heart, my liver, my blood flow,

my guts pulse, then my lungs blow,

my spleen, my stomach, my kidneys show.

it is like that i'm missing all protection,

it is no longer a matter of satisfaction,

i'm exposed to the world and disease.

you took half of me, i need to hold and flow

all your body into mine; would you, please,

lest i die of exposure, with bloodthread it sow?

UNWILLINGNESS

Women are said to be better in waiting

Than most men; across the centuries

They had stayed at home, while in ventures

Men went out, sometimes returning

With hands full of gold for them to wed,

Or coming back penniless to beg

For some tenderness and love to drag

Them out of defeat, heartbroken and sad.

Or never to return and all the time spent

In lonely waiting led to nothing but woe:

Also for this are women ready to expect...

But it is hard to wait, so many years I lent

To that expectation; then you come and go

And my heart gets broken and anxious to connect…