UM SIMPLES MILAGRE
CAPÍTULO I - DECEPÇÃO
Eu não quero mais ser motorista.
Tirar carteira causou-me Ojeriza.
no volante eu não ando na pista,
nem consigo fazer direito uma baliza.
Por ser sempre reprovado no exame,
Eu Já frequentei várias autoescolas...
Na hora da prova de rua que vexame
Os examinadores sem dó, ora bolas,
Afirmam que não posso ainda dirigir.
Assim eu decepciono meus instrutores
E a tristeza vem até a mim se divertir.
Busco um jeito de sumir do mapa.
Meus sentimentos sofrem horrores;
As lágrimas caindo em mim é um tapa.
CAPÍTULO II – SABEDORIA MATERNA
Como assim desistir de tirar carteira?
Você tem um exame de rua pra fazer
Logo, tire de sua cabeça tal besteira!
Depois da manhã vá seu direito exercer.
Já pagou as aulas, foi ao local da prova.
Não seja bobo e não jogue dinheiro fora!
Desistindo do exame, você só comprova
O quanto que o pessimismo lhe devora.
Não adianta fazer, mãe! Não vou passar!
Farei somente para você mais nada falar.
O resultado do exame depois da manhã
Por acaso já saiu e está consigo, filho?
Então não faça do fracasso seu estribilho!
Insisto: tire de sua cabeça esta ideia malsã.
CAPÍTULO III – MEDALHINHA DE SÃO CRISTÓVÃO
Filho, Apesar de não ser motorista ainda
Sinto que é a hora de lhe dar este presente.
Nossa, mãe, dê-me! Que medalhinha linda!
Mãe, é de um santo! O nome não me vem à mente...
Isso mesmo, veja as dicas e adivinhe quem é?
É padroeiro do motorista, viajante, peregrino.
Ele é um santo em quem muita gente tem fé.
Cuja imagem é um homem levando um menino
No ombro. Diante dessas dicas, acho que já sei.
É São Cristóvão, não é mesmo! Diga! Acertei?
Exato, A medalha é desta gargantilha o pingente.
Mãe, a senhora poderia colocar no meu pescoço?
Claro que sim, filho. Ficou lindo mesmo, endosso.
Obrigado, minha mãe, por este lindo presente.
CAPÍTULO IV – FIM DE PAPO
Vamos encerrar nossa conversa desse jeito:
Faça o exame depois de amanhã, pois está pago.
Se não passar, paciência! Sua reprovação aceito.
Agora, quanto a ser motorista, não mais divago.
Não passando, poderá abandonar a autoescola,
Jogar fora apostila que estudou ou dá-la a alguém...
Tais atitudes tornarão consciente à minha cachola
Que você ser motorista, de modo algum, lhe convém.
Quanto à medalha de São Cristóvão, use-a à vontade.
Ela é muito bonita para ficar assim na inatividade...
A não ser que considere o presente uma bobagem.
Você me convenceu, mamãe, seguirei seu conselho.
Assim me comportarei como homem e não fedelho.
Eu farei o exame marcado com a cara e a coragem.
CAPÍTULO V – O VELHO, A CRIANÇA, O RIO E EU
Saí para comprar o que estava precisando.
Deparo-me com uma cena que me intrigava.
Havia um garotinho muito triste apontando
do outro lado do rio onde um idoso lá estava.
Assim, do nada, o ex-bebê começava a chorar.
Do outro lado do rio o velho parecia assustado.
A criança, além de pequena, não sabia nadar;
porém o ancião, mesmo que quisesse... coitado....
Não teria força física para afazer tal trabalho.
o tempo voa, aumentando o choro do pirralho
Vou ajudá-la. Não ficarei aqui de braço cruzado.
O rio naquele trecho não era bastante profundo.
Daria para eu atravessar com a criança, segundo
O conhecimento desse rio que eu tenho guardado.
CAPÍTULO VI – EU, O RIO, A CRIANÇA E O VELHO
O rio é mais velho do que a minha cidade.
É límpido. Passa no meio da rua principal.
Do seu lado direito têm casas à vontade,
enquanto lado esquerdo é só comercial.
O rio corta nossa cidade de canto a canto.
Sobre ele existem duas passarelas; todavia,
onde o velho e o guri estavam, no entanto,
nem se quer ali uma simples pinguela havia.
Que complicação! A criança não sabia falar.
O que o velho falava eu não lograva escutar.
Aproximo-me do infante com todo cuidado.
Menino, levá-lo-ei até onde está aquele senhor.
Ouça! Confie em mim! Não tenha nenhum temor.
Já-já nós estaremos com o seu avô do outro lado.
CAPÍTULO VII – CRIANÇA COM O PESO DO MUNDO
Pego a criancinha e a coloco no meu pescoço.
Na metade do trecho do rio a ser atravessado
Acontece algo que pode me faz ter um troço.
Sinto que estou levando nosso planeta habitado.
Faço um esforço enorme para continuar de pé.
Os ombros doem. Crio coragem olho para cima.
O menino está no meu pescoço. Não sei qual é
A razão de me sentir assim. A margem aproxima.
Nunca rezei tanto na minha vida. Por medo, juro!
O rio me quer no fundo dele. Tal ideia, esconjuro.
Só com muita fé que posso cumprir minha missão.
A medalha me queima o colo. Não posso tirá-la.
O guri no meu pescoço me impede de arrancá-la.
Parece que virou pecado mortal a minha boa ação.
CAPÍTULO VIII – MISSÃO CUMPRIDA, GRAÇAS A DEUS
Com muito custo chegamos à margem do maldito rio.
Dou o infante ao idoso e tiro do pescoço a medalha.
Ele nem me agradece. Vejo a insígnia. vem um calafrio.
Estava sem nenhuma imagem. Meu olhar se esbugalha.
Minhas vistas agora procuram o menino e o ancião.
Os dois sumiram! Será que fiquei doido, meu Deus?!
Eu volto a olhar para a medalha. Acreditem ou não,
São Cristóvão e Jesus Cristinho voltaram a ela. Ó céus!
No meu colo a queimadura da medalha ainda existe;
Comprarei uma pomada à queimadura que persiste.
Não atravessarei o rio novamente. Estou com medo.
Andarei mais um pouco ainda para usar a passarela.
Se contar o que aconteceu, dirão sem choro, nem vela.
Esse rapaz é maluco! Interna-o enquanto ainda é cedo!
CAPÍTULO IX – MEU SEGREDO
Meu filho, você está muito molhado, por quê?
Ih, mãe! Se eu contar, você não vai acreditar!
Tente! Só contando pra saber! O motivo, cadê?
Deixe pra lá, mãe! Talvez um dia vá lhe contar.
Fique tranquila, mãe, eu não fiz nada de errado.
Vou tomar banho e depois descansar um pouco
Descansar? Não fez nada! Desembucha danado!
Desista, mãe! Se lhe contar você me achará louco.
Entro no banheiro. Tiro a roupa. O queimado sumiu.
Não estou doido! Não estou doido! O rapaz repetiu.
Ligou o chuveiro. Pensou consigo: vivo um pesadelo.
Belisco-me e me certifico que o acontecido foi verdade.
Tomo banho. A mente permanece a toda velocidade.
Tenho que esquecer o ocorrido, se não me descabelo.
CAPÍTULO X – O DIA DO EXAME
E então chegou o dia, outrora temeroso para mim.
Ia fazer o exame sem a medalha. Usá-la não queria.
Depois do que aconteceu ontem, não fiquei afim,
Porém minha mãe insistiu que a usasse naquele dia.
Mesmo com medo a coloquei para alegria materna.
O instrutor levou-me. Faço todo o exame de rua,
Sem medo e insegurança. O erro agora hiberna.
Os avaliadores disseram-me de forma bem crua:
- Você foi aprovado. Não cometeu nenhuma falha.
Fico muito feliz. Não me contenho. Beijo a medalha.
Depois que a beijei, vi São Cristóvão com gesto de ok.
Volto para casa numa alegria incontida e gostosa.
Mãe, vem cá! Trago-lhe uma notícia maravilhosa
Que você passou? Através da minha oração, eu sei.
O FILHO DA POETISA