AS JOVENS DE ROMA I A V
A S J O V E N S D E R O M A
CICLO DE POEMAS LÍRICOS,
QUE COMO LÁPIDES SE APRESENTAM.
W I L L I A M L A G O S [julho 2006]
AS JOVENS DE ROMA I
TARQUÍNIA
ESQUIVA FLOR, QUE ME URDIU UM DIA
A TEIA ESQUÁLIDA DA EMOÇÃO ESQUIVA;
ESQUÁLIDA ESSA FLOR QUE, DE LASCIVA,
APENAS EMOÇÃO TRANSIENTE SUGERIA...
UNGIDA FLOR, QUE ME FERIU À NOITE,
COM UM GOLPE DE OLHAR FUGAZ E RARO;
FEROZ A FLOR, QUE FEZ EM DIA CLARO,
NA LUZ DE SEU OLHAR, UNGIDO AÇOITE.
FLOR RESSEQUIDA E ALHEIA AO SENTIMENTO
QUE DESPERTOU EM MIM E QUE RETORNA,
SOMENTE POR CAPRICHO E AGRURA BRAVA.
FLOR AGRIDOCE, NO ESPANTO DE UM MOMENTO
DE INSIPIDEZ SILENTE... NESTA MORNA
DOÇURA MORTA DA CERTEZA ESCRAVA...
AS JOVENS DE ROMA II
CALPÚRNIA
MEU PÁTIO RESSECOU: PERDEU SUAS FLORES
NESSE INVERNO TALAR, QUAL PRIMAVERA,
MAS SEM O RECENDER, SEM OS OLORES
DE ESTAMES E PISTILOS, SEM A ANTERA
EM DEISCÊNCIA, A CHAMEGAR QUIMERA,
SEM RAMOS VERDEJANTES DE TREMORES;
ATÉ O BRAÇO DA MUSA É UMA CRATERA
DE QUE NÃO SAI MAIS LUZ, NEM MAIS AMORES...
E COMO SE ACHA ESTÉRIL MEU JARDIM!?...
HÁ RAMOS VERDES, FARFALHANDO AO VENTO,
PROMESSAS VAGAS, SEM FAVOS DE MEL;
MAS QUANDO ME APROXIMO, VEJO ASSIM,
SEM TER BOTÕES... E ME ESVAIO NO PORTENTO
DE TANTAS FLORES QUE REBROTO NO PAPEL...
AS JOVENS DE ROMA III
PLACÍDIA
A CADA VEZ QUE UM VERSO ME É AMPUTADO,
QUE MINHAS SINAPSES ARRASTA, EM VENDAVAL,
RASGÕES ME FAZ NA ALMA, A PONTO TAL,
QUE O CORAÇÃO SE FAZ DILACERADO...
QUE, NESTE PONTO INTERMEDIÁRIO DE MINHA VIDA,
SÓ QUERO ME ENCERRAR, SEM MINHAS MEMÓRIAS RECOMPASSAR... SEM MAIS LUTAS INGLÓRIAS,
RENOVADAS DIA A DIA, EM DURA LIDA...
E FICO ASSIM, PASMADO A DELIRAR,
CHAMUSCADO POR TANTAS EXPLOSÕES,
QUE EXPÕEM, MENOS QUE SONHOS,TANTOS MEDOS...
E CHEGO, EM TAL INSTANTE, A DESEJAR
QUE OS VERSOS NÃO JORRASSEM BORBOTÕES,
A ME RASGAREM A ALMA PELOS DEDOS...
AS JOVENS DE ROMA IV
SYBILLA
AS PALAVRAS SÃO MUITAS E SÁFARA É A COLHEITA:
EU ME ESFORCEI DEMAIS E POUCOS RESULTADOS
RECEBI NESSA VIDA DE CÁLICES RACHADOS,
DE ALIMENTO PINTADO NOS PRATOS, COMO PEITA,
EM MULHERES DE ARGILA, A CARNE ME SUJEITA
A DESPENDER AMOR E OS OLHOS MEUS, VAZADOS
PELOS PERFUMES ACRES DE DEUSES APRESSADOS,
SÓ ENXERGAM A MUDEZ DAS NUVENS E A PERFEITA
EXUMAÇÃO DA LUZ, NA LUCIDEZ DAS TREVAS:
BEBO ÁGUA DE PALHA, MEU OURO É SULFURINO,
ABRAÇO SOMBRAS VÃS, EM FÉRVIDA ILUSÃO,
MEU PEITO SEM COURAÇA; E NEM UM PAR DE GREVAS
AS PERNAS ME PROTEGE DO LACERAR LADINO
DESTE SANGUE DE GIZ QUE ME ENCHE O CORAÇÃO.
AS JOVENS DE ROMA V
CAECILIA
QUANDO A PERCEBO ASSIM, SÓ NUM RELANCE,
QUE O ROSTO MAL ME MOSTRA E ATÉ ME ESCONDE,
VOLTA-ME AS COSTAS, FOGE AO MEU ALCANCE,
PERDIDO O SEU AMOR, SABE DEUS ONDE!...
NESSE MOMENTO FUGAZ, A VEJO FEIA;
DO AMOR O ENCANTO DE SEU ROSTO É FILHO:
ENTÃO, POR ELE, O CORPO SE INCENDEIA
E O OLHAR RELUZ EM CHAMEJANTE BRILHO...
ENCONTRO NESSE AMOR MUITA INJUSTIÇA,
MUITO AMARGOR, ENFIM, UMA TRELIÇA
DESCOMPASSADA DE ALEGRIA MORNA,
MARCADO ASSIM POR SOMBRA AXADREZADA,
MESMO SENTINDO A ALMA INCINERADA,
FICO AGUARDANDO ESSE DIA EM QUE RETORNA...