A BELA ADORMECIDA - Américo Facó
A alma levada longe, e todavia
presente, e presa do segredo, anima,
expira a rosa de opulento clima,
flor viva, aroma novo, aura macia.
Desejo franze o beijo, e se inebria;
abraço iluso preme e tem por cima
um corpo alheio, — na delícia prima
de oculta flama que se nega ao Dia.
Entrevencido e surpreso, adivinha
o ser profundo e a vertigem da vida,
fruto suspenso da secreta vinha…
Forma acesa de amor adormecida!
Para as primícias de um mistério antigo,
um deus solerte quis dormir contigo.
© Américo Facó
in: Poesia Perdida, 1951.
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Américo de Queirós Facó (Beberibe-CE, 21 de outubro de 1885 — Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1953) foi um jornalista, poeta e escritor. Seu pai o enviou a Fortaleza para completar os estudos no Liceu do Ceará. Nos próximos dois meses, após a conclusão dos preparatórios do Liceu, foi professor do Instituto de Humanidades de Joaquim Nogueira. Em seguida, passou a dedicar-se à literatura e ao jornalismo no Jornal do Ceará, de Waldemiro Cavalcanti (posteriormente de Agapito dos Santos), no qual, além de publicar seus sonetos, assinava a coluna “Olho da Rua” (entre 1907 e 1908). Também em 1908 publicava no Álbum Imperial, de São Paulo. Como João Brígido, d'Unitário, assumiu forte resistência à oligarquia de Nogueira Acioly, Presidente da Província, o que lhe rendeu, em represália, em 21 de dezembro de 1908, uma violenta e quase trágica surra por parte de policiais. Assim, aos 25 anos (1910) viu-se forçado a mudar-se para o Rio de Janeiro, na época a capital brasileira. Trabalhou em diversos jornais, fundou e dirigiu revistas como a Ideia Ilustrada (1924) — que tinha dentre os colaboradores o amigo Sérgio Buarque de Holanda —, Estética (1924), O Espelho (1930) e Pan (que sob sua direção, em 1940, publicou “Triunfo”, o primeiro conto de Clarice Lispector). Foi um dos fundadores da Agência Brasileira de Notícias (1924), diretor do Instituto Nacional do Livro e redator de debates do Senado Federal. Durante alguns anos dirigiu a parte literária da revista Fon-Fon. Publicou Sinfonia Negra em 1946 e, em 1951, Poesia Perdida.