FLOR D'ALVA - Antônio Sales

Esmorecia ao longe o garganteio

dos galhos; pouco a pouco e docemente,

folha a folha, de cumulus no meio

desabrochava a rosa do nascente.

Expandia-se mais e, subtilmente,

ganhava todo o céu; — no enorme seio

brilhava um rócio estranho e fulgente,

e de aromas o espaço estava cheio…

Mas, súbito, tremeu no caule enorme…

Tremeu, murchou, pendeu… Em bando informe.

As pét’las pelos píncaros do monte.

Voaram… Quando a pálpebra radiosa

do sol se descerrou, da pobre rosa

nenhum vestígio no horizonte…

© Antônio Sales

in: Versos Diversos, 1890.

* Primeira versão em: Jornal “A Quinzena”, 1887.

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Antônio Sales (Paracuru, 13 de Junho de 1868 — Fortaleza, 14 de Novembro de 1940) foi um romancista e poeta brasileiro que ocupou os cargos de secretário da justiça e do interior no tempo em que General Bezerril governou o estado do Ceará, além de deputado estadual.

É muito lembrado como uma das figuras mais marcantes da literatura cearense por ter fundado a Padaria Espiritual juntamente com Adolfo Caminha, Antônio Bezerra, Lívio Barreto, Henrique Jorge, Juvenal Galeno e vários outros jovens intelectuais que formavam o círculo cultural de Fortaleza do fim do século XIX. A Padaria Espiritual ganhou bastante visibilidade por sua forma irônica e irreverente de criticar a "provincianidade" fortalezense da época em busca de um resgate criativo dos espaços e dos meios de cultura no Ceará, movimento que influenciou a Semana de Arte Moderna. Foi redator do jornal "O Pão", através do qual se divulgavam as ideias da agremiação literária que participava, do qual exerceu o cargo de padeiro-mor. É conhecido também por ser amigo de Machado de Assis e por jamais ter aceitado aos inúmeros convites de compor a, então em fundação, Academia Brasileira de Letras. É o patrono da Academia Cearense de Letras e foi batizado por Rachel de Queiroz como "padrinho e figura suprema das letras no Ceará".

Em 1892 fundou um movimento de renascença literária no Ceará chamado de Padaria Espiritual, agremiação que marcou, entre 1892 e 1898, a vida da provinciana capital do Ceará naqueles primeiros dias de República e da qual fizeram parte vários grandes autores cearenses.

Obras: Versos Diversos, poesias (1890); Trovas do Norte, poesias (1895); Poesias (1902); Minha Terra, poesias (1919); Aves de Arribação, romance e novela (1914).