Fiques em mim...
Nada te poderei dar, ó meu amor,
senão essa triste mágoa de me veres
eternamente exausta pela dor...
Ah! Descobri que não tenho poderes...
E assim vou te envolvendo no amargor...
Digo-lhe: nós mulheres somos seres
tão sensíveis! Talvez alguma flor
que logo murcha nos entardeceres...
Apesar disso amor, quero pedir
que fiques em mim. Fiques como a crença
dos mais desesperados no milagre;
para q’eu possa ter o que sorrir;
alguma coisa como a luz imensa...
Meu doce amor, não deixe q’eu naufrague.
Como os pombos...
É assim, ao entardecer, que vem os pombos,
ruflando as asas antes de pousar...
Vai-se o dia e, serenos são os assombros
quando a brisa da tarde vem soprar.
E tudo se arrepia: eu, folhas, pombos...
Os sonhos, um por um, sinto-os voar...
As asas soltas — fogem— pelos rombos.
Como os pombos não querem se aquietar.
Essa imagem dos pombos nos beirais,
a solidão, a memória — vem chegando...
Tudo se fecha tal traje noturno...
Vejo a cena dos sonhos, dos pombais...
Mas eu sei que estou apenas me enganando...
Pois meu amor — o real— é tão soturno!...
Nem pardais...
Ah! Meu amor, aqui os muros são bem altos!
Pouco vejo o céu e quando é lua cheia...
Nem pardais — imagine — vejo aos saltos
engraçados bicando a pobre ceia...
Eu gostava de meus pardais tão incautos.
Na varanda, no muro... Ah! Amor creia:
eram sobras de pão manjares lautos
e lauta a poesia na mi’a veia.
Eu aloucada, escrevia... Ah! Escrevia...
A mi’a realidade era tão dura!
Mas escrevia... Versos tolos, parcos...
Então um dia eu parti... Foi-se a poesia...
Logo a poesia, mi’a ilusão da cura...
E ainda não pude amor, juntar meus cacos...
Para nos guardar...
Chega um tempo q’os vidros também quebram
e os espinhos transformam-se em cipoais.
Quanto a dor? “Sobe e desce”, nos disseram...
Misturam-se aos talheres nossos ais.
Até as invejas morrem. Ou se esgotam...
E o vento leva coisas ou nos trás.
Dos rancores, esquecem-se as mãos—buscam
elas ainda o amor de formas tão iguais!
Por isso estamos juntos nos espinhos.
Juntos na dor, nos cacos , meu amor— vivos;
Juntos no vento a varrer nossos caminhos...
E embora tudo acabe, é transitivo...
Então para que nos servem os escaninhos?
Para nos guardar em versos — exclusivos...
Os versos...
É noite — no céu, estrelas — em ti penso...
Mi’a solidão angustia — perco o senso—
e faço versos tolos. Sopra o vento
e me arrepio — a rima é meu lamento...
Tão longe estás! Os versos são um consenso
entre a métrica e o sonho, mas propenso
a falar-te de todo sentimento:
dessa saudade, o amor... Eles são alento...
O alento que na folha vai ficando
em rebuscadas juras e promessas
— os versos que o sereno vai molhando.
Partem então as estrelas— tão depressa!
Só fica a Estrela d’alva ali brilhando;
eu e os versos que no alvor enfim ingressa...
Que fale o sonho...
“Ai! Dói muito calar o róseo sonho”,
já dizia o poeta Castro Alves...
Se ele estiver errado, tu ressalves,
mas, não vivê-lo, ó amor, é tão tristonho!
A convenção de tudo já nos priva;
assim nos resta apenas o anelar
fremente; o devaneio de sonhar
que nos mantém o amor e a chama viva.
Ah! Bem sabes, dói muito essa ironia,
quando nossa alma adeja em fantasia
e o fado não nos dá alguma esperança...
Então que fale o sonho— essa ventura
gratuita dos que vivem a loucura
de um amor proibido sem cobrança...
E assim vou seguindo com minha série de sonetos. adoráveis sonetos.
Imagens giff: By@google.
Devo ficar mais de uma semana sem vir aqui. Vou ficar com meu pai na fazenda, pois meu irmão vai fazer uma cirurgia e meu pai, já viu não sai daquela roça. Mas adoro ficar lá. abraços caros amigos.