ILUMINISMO &+
ILUMINISMO & MAIS
Novas séries de WILLIAM LAGOS, 23/7-1º/8/2018
Iluminismo (VIII) ... ... ... 23/7/2018
Mortos-Vivos (III) ... ... ... 24/7/2018
Ectoplasma Tímido (IV) ... ... ... 25/7/2018
Autenticidade (III) ... ... ... 26/7/2018
Poética (IV) ... ... ... 27/7/2018
Em Covarde Resplendor (IV) ... ... ... 28/7/2018
Retrospecção (IV) ... ... ... 29/7/2018
Laranja Estrela (IV) ... ... ... 30/7/2018
Melodicidade (III) ... ... ... 3l/7/2018
Unanimidade (VI) ... ... ... 1º/8/2018
ILUMINISMO I – 23 JUL 2018
Foi o Iluminismo um movimento filosófico,
destinado a combater superstição,
o Absolutismo e toda a intervenção
do Estado ou de misticismo pseudossófico
dos charlatães que por motivos egotistas
criavam suas “maçonarias”, em que são,
opostamente à verdadeira instituição,
ensinadas falsas místicas sofistas,
abundantes deste o surgir da Renascença,
em que falsos profetas apregoavam
conhecimento oculto e pré-cristão,
a converter para seu tipo de crença
principalmente os ricos que exploravam,
pompas brilhantes para sua iniciação.
ILUMINISMO II
Os Iluministas pregavam o uso da Razão,
que chamavam de “Luz” contra a crendice
do Direito Divino dos Reis, uma tolice,
que a Igreja apóia para sua dominação;
estas as “Trevas” de antiga gestação,
durante a Idade Médica, escolastice
disseminada, porque os prelados, diz-se,
na maioria, eram de nobre condição;
mas defendiam, sobretudo, a liberdade,
por certo corporal, porém da mente
mais do que tudo, unida à fraternidade
entre todos os homens! Bem.. os europeus,
sem que esse sentimento de igualdade
se extendesse aos negros ou aos judeus...
ILUMINISMO III
Da Reforma Religiosa foi direto herdeiro,
impossível na monolítica religião,
a defender da burguesia a ocupação,
não só liberta para ganhar dinheiro,
mas liberdade social tendo por inteiro,
o antropocentrismo a defender, em oposição
à Teocracia hierárquica cuja dominação
durava séculos, mas com aceno lisongeiro
à Monarquia com vigor constitucional,
assim os Déspotas Esclarecidos aceitando
as suas ideias e o Parlamentarismo:
Friedrich II na Prússia e em Portugal
o Marquês de Pombal rédeas tomando
do governo aos reis contra o obscurantismo.
ILUMINISMO IV
A escravidão já multissecular
na Rússia sendo aos poucos aliviada
por Yekaterina Segunda, também inclinada
para milhares de Judeus ir convidar
que em sua pátria a base iriam criar
de uma burguesia a ser formada,
entre os escravos e os nobres colocada,
comércio e indústria assim a apoiar.
Os principais destes argutos pensadores
Foram John Locke, dito o “Pai do Iluminismo”,
Voltaire a combater o absolutismo,
Montesquieu dos três poderes, conservadores
da integridade do Estado, que a monarquia
como o Poder Moderador defenderia.
ILUMINISMO V
François Quesnay, muito mais um idealista,
um Capitalismo Agrário a defender,
sem que a Nobreza o pudesse combater
e Adam Smith, o maior liberalista;
ao mesmo tempo, os naturalistas,
portas abriram para a ciência florescer,
sem de fato a natureza proteger;
mais coletores sendo que cientistas;
infelizmente, tal a natureza humana,
o Liberalismo conduziu à opressão:
na Inglaterra, abolida a escravidão,
milhões de servos às cidades afluíram,
em habitação realmente sub-humana,
dominação em egotismo soberana.
ILUMINISMO VI
Então surgiram as ideias socialistas,
a culminar no Marxismo-Leninismo,
a Ditadura do Proletariado um idealismo
que pretendia da liberdade seguir pistas;
mas ditaduras sempre são absolutistas,
resultando em igual paralelismo
com os governos de total protecionismo,
que ao invés de racionais, são ideologistas;
parece ser inerente ao ser humano
degradar todo ideal de liberdade,
em especial quando for intelectual
e na desculpa de um futuro arcano,
transformar-se em monolítica unidade,
todo altruísmo transmutando em mal.
ILUMINISMO VII
Talvez nos surja um novo iluminismo,
de novo a esclarecer nossa razão,
mas por certo as trevas aqui estão,
a desvirtuar arte e cientificismo;
não chego a acusar de diabolismo
quando a Ciência foi feita religião,
a negação do divino quase obrigação,
a ética clássica a encarar com ceticismo;
nem é tão só questão de mediocridade
grosseiras coisas aceitadas como arte,
mas certamente existe aqui degradação,
pós-modernismo verdadeira aberração,
ideologia e desaponto parte a parte,
total descrença em nossa humanidade.
ILUMINISMO VIII
Vejo esperança na quântica e astronomia,
as descobertas mil a acumular,
nosso caminho às estrelas a indicar,
desmentindo toda a falsa arqueologia
que da raça o progresso impediria,
tudo deuses-astronautas a lhe dar;
se não de Deus, há alguma força a orientar
tais descobertas em simultânea via;
eu creio ainda no antropocentrismo,
pouco importando nossos raciais defeitos
e o eventual, mas terrível, retrocesso;
mas há tendência para o perfeccionismo,
nossos espíritos mais e mais insatisfeitos
na imposição de um comercial progresso.
MORTOS-VIVOS I – 24 JUL 18
Esses filmes de zumbis só me dão nojo,
na estupidez apresentada em seu formato,
nesse plágio de descarado desacato,
mais que os zumbis em canibal despojo.
Na posição oposta, então, me alojo,
qualquer cerebrofagia eu não acato
e à minha originalidade não abato,
autoridade intelectual de mim arrojo!
Pois me parece que esses roteiristas,
de ideias próprias sempre destituídos,
até confessam a outras mentes devorar;
e ao assumirem serem plagiadores,
iguais zumbis de estômagos destruídos,
ideias alheias não se importam de furtar!
MORTOS-VIVOS II
Na verdade, os cadáveres descansam,
o medo deles a ser multissecular:
os Egípcios com suas faixas a amarrar,
os Indo-Europeus que de os cremar não cansam;
os Romanos com sangue até os amansam,
mais por temor de sombras a ulular;
mesmo em valas comuns a derramar
óleo e álcool para as chamas que ali dançam;
algumas tribos vão seus mortos devorar,
porém nós os vamos em gavetas encerrar,
por não confiar naqueles parafusos
que os seguram dentro dos caixões,
porém das almas a temer assombrações,
missas rezando de portentosos usos!
MORTOS-VIVOS III
Na realidade, estão aí os mortos-vivos,
aos quais não é possível sepultar,
esses milhões a quem as drogas vêm viciar
e os seguidores de profetas mais altivos;
as multidões de operários inativos,
porque trabalho não conseguem alcançar,
essas massas de manobra sem pensar,
que até no futebol acham motivos,
dos oponentes a criar mortos reais,
mais a camada inferior de analfabetos,
não importa sua cor ou religião,
que nem ao menos têm vivos ideais,
mas só desejos que em nada são secretos:
que para si e seus filhos tenham pão!
ECTOPLASMA TÍMIDO I – 25 JUL 18
Sempre foi bem conveniente declarar
que o ectoplasma facilmente se dissolve
na presença de um cético, que o envolve
com a descrença total de seu pensar!
Chamadores de mortos alguns a se arvorar,
em situação qualquer que aos tais devolve
durante uma séance; e se algum resolve
qualquer dúvida da chamada a lhe afirmar,
ofendido, o ectoplasma deixa o tal lugar;
(não era fácil para um vivo produzir
as alegadas manifestações concretas,
surgindo às vezes desde o fino ar,
noutras da boca ou do nariz a expelir),
tais proezas sendo hoje obsoletas.
ECTOPLASMA TÍMIDO II
Mas de invocar algum não há o que impeça,
desde que alguém se disponha a contribuir,
quando um espírito vem num vivo se incluir,
comunicando-lhe uma voz que se pareça
com a do falecido, desde que não se esqueça
que no “outro plano” ele está a evoluir
e alguma coisa sempre se pode diluir,
nessas sessões a ocorrer por aí à beça!
Naturalmente, não há espírito inquietos;
creio na alma e na imortalidade,
mas os imateriais são bem mais quietos
do que os médiuns nos fazem acreditar,
embora aspectos de sua personalidade
os ministrantes em nós possam captar...
ECTOPLASMA TÍMIDO III
Se por acaso sucesso não alcançam,
a despeito dos murmúrios ambientais,
de interferências reclamam naturais,
pois certamente os espíritos ali dançam,
mas de tentarem manifestar-se cansam,
quando os descrentes superam aos demais,
voltando então para regiões espirituais,
onde em poltronas confortáveis se balançam!
Mas afinal, no Velho Testamento,
existe clara e total condenação
para qualquer feiticeira ou invocadora;
e a Pitonisa de Endor, em tal momento,
ao Rei Saul trouxe final condenação,
após ter feito intervenção em triste hora!
ECTOPLASMA TÍMIDO IV
O Seio de Abraão só no Novo Testamento,
é no Evangelho de São Lucas mencionado;
quando o Profeta Samuel foi invocado,
referiu-se a “subir” nesse momento, (*)
(*) Ver I Samuel Capítulo 28.
sua perturbação a trazer grave lamento
ao Rei Saul quando lhe foi comunicado
que ele seria em Gilboa derrotado,
também seus filhos em acompanhamento (*)
(*) Ver I Samuel Capítulo 31.
de Samuel, onde quer que esse profeta
se encontrasse, no Abaddon ou no Sheol,
do Paraíso sem formar-se ainda conceito;
e se essa narrativa hoje te inquieta,
vive tua vida sob a luz do Sol,
sem de qualquer invocação tirar proveito!
AUTENTICIDADE I – 26 JUL 18
Nessa dança permanente dos amores
com frequência se encontra a falsidade,
no egotismo natural da humanidade,
o altruísmo contrário a seus pendores;
comumente é mais troca de favores:
“Trata-me bem e com equanimidade
o mesmo te farei; e em naturalidade,
trata-me mal, te servirei rancores.”
Mas se os passos do amor forem seguidos,
mesmo quando se enfraquece o sentimento,
percebes, com surpresa em tal momento,
que o amor surgiu ou voltou, substituídos
os desdéns e descasos por carinho,
lado a lado, por difícil o caminho.
AUTENTICIDADE II
Não obstante, pode protestar alguém
ser muito errado se pretender amor,
mas por que, se a intenção desse fervor
é a seu alvo tão só fazer o bem?
Sempre existe um motivo de temor:
há quem pretenda ter amor, porém
só intenções egotísticas mantém,
a ser autêntico somente em seu favor.
Há quem deteste até os próprios filhos,
a pretender um amor igual também
e com auto-sacrificio até o sustém;
mesmo não sendo autênticos tais trilhos,
é autêntico no dever que com eles tem,
investimento que no fundo lhe convém...
AUTENTICIDADE III
Sentimentos contraditórios todos temos,
melhor quem busca o bem alheio por ofício
que recusarmos o próprio sacrifício,
quando auxiliar ao próximo podemos;
quem mais próximo que alguém com quem vivemos?
Pouco importa ser forçado o benefício,
se for bem disfarçado o malefício
que em nosso coração assim contemos.
Ai do mundo, se por egoísmo autêntico,
ninguém quisesse em nada se doar
ou só o fizesse esperando recompensa,
aqui na Terra ou em Paraíso idêntico,
contribuições que bem sabe calcular,
num livro-caixa que o espiritual condensa.
POÉTICA I – 27 JUL 2018
É bem variado o conceito de poesia:
cada verso, para mim, deve cantar,
sem frases soltas apenas se alijar
sobre uma folha que tudo permitia;
antigamente, sem haver nisto nostalgia,
qualquer poema era difícil de gravar,
sem pergaminhos, só por memorizar;
versos pagãos qualquer frade destruía,
palimpsexto em que anotar a liturgia,
que muito útil, é natural, lhe parecia;
porém depois se difundiu o papel,
sobre o qual com cânula se pintava,
letra após letra, da palavra que voava
por qualquer mente inspirada de ouropel.
POÉTICA II
Já havendo de livros a impressão,
sempre que a fosse possível financiar,
mais raramente se alguém podia avaliar
qualquer valor num poema em produção,
a ser guardado para outra geração,
poesia e prosa a se popularizar,
na ordem direta de se alfabetizar
um público para lhes dar mais atenção.
De qualquer modo, sempre era restrito;
não era qualquer coisa a ser impressa,
muito poema em gavetas a mofar;
então surgiu, para um poeta aflito,
a datilografia, em que bem mais depressa
podia a obra pelo mundo se espalhar.
POÉTICA III
Mesmo assim, havia dificuldade
para ser algo publicado num jornal;
das regras da gramática, afinal,
a poética a mostrar diversidade.
E a rima e o ritmo, com especiosidade,
se exigiam, numa censura natural:
que a presença da cesura ou métrica final
fossem perfeitas em sua engenhosidade,
no fim a forma a superar a ideia,
muito cronista a fazer “prosa poética”,
regras deixando, talvez sem muita ética,
mas alcançando assim vasta assembleia,
sem que sofresse da má comparação
com as obras dos poetas que o lerão.
POÉTICA IV
Mas de repente, veio o computador
e qualquer um pode nele digitar;
tornou-se fácil pela rede se espalhar
qualquer coisa de bom ou mau pendor;
por que aceitar um determinador
de como um verso se deve comportar;
pior ainda, por que ideia censurar,
por medíocre que seja o seu teor?
Retorna assim o velho “modernismo”,
ao qual jamais consegui me adaptar,
os meus sonetos jamais a desregrar,
rima e cesura vêm com naturalismo,
métrica e ritmo bem fácil a manter,
em que as ideias melhor podem florescer!
em covarde resplendor 1 – 28 jul 18
não acredito em inferno ou coisa assim,
salvo, talvez, no inconsciente coletivo,
que em tal lugar somente jaz cativo
quem julga merecer parelho fim.
foi neste mundo que habitar eu vim,
que se adiem punição e lenitivo;
só a consciência nos traz tormento ativo,
sem permitir-nos algum descanso enfim.
são as lembranças que esquecer mais se deseja,
esses demônios da pura nostalgia,
que não nos deixam permanecer em paz,
tudo quanto não se fez quando se enseja,
esses duendes de pura covardia,
por cujo riso a vida se desfaz.
em covarde resplendor 2
por muito tempo e até mesmo na poesia,
quando versos espontâneos me brotavam,
a autocrítica e o medo os descartavam,
sem acreditar que a mim tal mote pertencia,
do mesmo modo que na vida inteira eu via
projetos úteis a que temores adiavam,
na insegurança a que me condenavam
a educação e a troça que sofria
de meus colegas e até perseguição,
isso a que agora o termo bullying se refere;
como menino criado com cuidado,
muito temia essa tal provocação
e é rara a iniciativa que se insere
nesse que foi à desconfiança bem treinado.
em covarde resplendor 3
assim, por mais talentos que tivesse,
difícil era lhes dar continuidade
por mais que os empregasse na verdade
e como ator e compositor me expressasse;
e até com frequência viajasse,
mas sem seguir uma oportunidade,
pelo temor de toda a sociedade,
sendo criado para que dela desconfiasse.
pelos meus erros assumo a culpa inteira;
pouco importa o que de alheios eu sofri;
eu deveria reagir e não reagi,
enquanto o tempo escorria e sorrateira
se apresentava nova iniciativa,
em tudo nela minha alma rediviva.
em covarde resplendor 4
foi assim que criei meu próprio inferno,
grades forjadas de ilusões perdidas,
chaves feitas de injúrias bem sofridas,
desdém e inveja em componente eterno,
essa vontade de destruir quanto é superno,
quaisquer pequenas vitórias obtidas,
depauperadas por críticas renhidas;
entre o combate e o desalento alterno;
mas reconheço, afinal, o meu caminho
e desta vez, não mais desistirei,
mais mil poemas compor conseguirei,
sem me importar com crítico mesquinho,
só a indiferença ainda a me magoar,
mas mesmo essa para mais me impulsionar.
Retrospecção 1 –29 jul 18
Já terminados meus paradoxos foram,
Até que outros me surjam de inopino,
Enquanto de retrovírus toca o sino,
Solto à vida os poemas que em mim moram.
Já não mais me surpreendo como estouram
Essas centenas de versos com que atino,
Em frias certezas, sem temor ou desatino,
Ainda que falsas, porque sei que douram
A atualidade com as antigas tradições,
Revestidas do sabor das gerações,
Coadunadas a um mundo que passou,
Enquanto os desafios que agora lanço
Correspondem a um mundo menos manso
Em que pouco desse antigo ainda ficou.
Retrospecção 2
E assim me animo a remar contra a maré,
Por mais que saiba poder ser arrastado;
Por nenhum rebocador serei puxado,
Mas no que faço eu agora ponho fé.
Serei, no máximo, nota de rodapé,
Igual a curiosidade ser mostrado:
“Existiu um indivíduo, no passado,
Que escreveu quarenta mil sonetos, mas não é
“Apesar disso, nem um pouco conhecido,
Seus versos colocou só na Internet
E se perdeu seu conteúdo digital:
“Por explosão solar foi removido,
Somente existem fragmentos qual confete,
Que eruditos compilam mal e mal.”
Retrospecção 3
Não obstante, o importante é persistir;
Se jamais eu for lembrado, pouco importa,
Que esses versos lancei nessa retorta,
Talvez seu ouro alguém possa descobrir,
Com a Pedra Filosofal a percutir,
Que a todos liberei por essa porta
E se alguém plagiar o que neles se comporta,
O importante é o conteúdo persistir,
Que os versos não são meus, são do Inconsciente
E assim pertencem a toda a humanidade,
Que algum bem possam fazer assim espero,
Mesmo depois de aqui não mais estar presente,
E se a algum citem, mesmo com especiosidade,
Minha longanimidade eu não altero.
Retrospecção 4
Desejo a ti, caro leitor, gentil leitora,
Qualquer coisa que te ajude minha experiência:
Quiçá espicaçado por qualquer potência,
A mim trazendo a produção que me devora
E que esses versos que me lês agora,
Enviados sejam por Divina Providência
(ou por qualquer desconhecida agência)
Para conselho enviar-te nesta hora:
Se por acaso foste alvo, como eu,
De poda familiar ou de perseguição
Que te prejudicou a iniciativa,
Disso a culpa maior te pertenceu,
Mas sempre há tempo de retratação
E boa marca ainda deixar na vida ativa!
LARANJA ESTRELA I – 30 JUL 18
No topo da laranja vejo estrela.
é bem verdade que eu nunca percebi
cinco ou seis pontas; em estrela apenas vi
luz circular em sua centelha bela.
É bem provável que na névoa da procela
longos raios se desprendam por aí,
mas mesmo em bruma não achei aqui
essas pontas como enfeites numa sela.
Mas não pretendo em nada ser trocista,
na roda dos escarnecedores não me assento,
mas sobre o mundo meu olhar é diferente;
melhor que eu, quem sabe, o povo avista
cinco ou seis pontas para seu contento,
enquanto as fito menos complacente...
LARANJA ESTRELA II
Talvez sobre as planuras de um deserto,
em que o ar seja um pouco rarefeito,
um cameleiro de sono imperfeito
essas agulhas conseguiu ver, por certo...
Em alguma foto que já tenha aberto,
de alguma estrela de quatro pontas vejo o jeito,
a essas miríades de galáxias me sujeito,
se de Amalteia provêm do ubre é incerto. (*)
(*) A cabra de cujo leite teria surgido a Via Láctea.
Mas reconheço ter tido sempre miopia
e gostaria que me acreditassem,
que não as vi até meus sete anos;
que não as visse meu pai nunca me cria,
talvez feridas narcísicas o magoassem,
visão perfeita sempre teve, sem enganos...
LARANJA ESTRELA III
Não obstante, na laranja há uma estrelinha.
com cinco pontas bastante definidas,
estas imagens talvez sendo sugeridas
dessas estrelas que na infância nunca tinha.
Aberta uma maçã, também continha
outras estrelas em seu cerne inseridas...
até que ponto as legendas a ser cridas
que tenha sido a tentação da Mãe-Rainha?
A qual, com folhas de maçã a sua nudez
bem certamente não poderia ocultar;
por tradição foi com folhas de parreira;
porém as vestes que Jeová lhe fez
com peles de animais foi fabricar
e não com folhas de maçã ou de figueira!
LARANJA ESTRELA IV
De onde tiraram essa história da maçã
talvez criaram para troça alimentar,
da narrativa bíblica a zombar,
muito embora essa ironia seja vã,
pois não menciona essa fruta temporã,
que em tempo histórico só foram cultivar;
já a laranja talvez vá representar
os Pomos das Hespérides, no afã
de Hércules, a mandado de Euristeu,
bem longe a Grécia desse Éden inicial,
que em certo ponto da Síria se acharia,
mas sem ter brilho, assim me pareceu,
a sua estrelinha de dourado natural,
sem se tornar em minha Estrela-Guia!
MELODICIDADE I – 31/7/2018
Há certas músicas que me entram pela alma
e forjam artimanhas no meu peito;
harmonias são perfeitas, sem defeito,
por minha mente a perambular sem calma;
São velhas melodias de europeia palma
que em minha mente travam um perfeito
combate a que me encontro assim sujeito,
nessa exigência firme que me embalma,
apesar de sabê-las qual de cór,
ao escutá-las, sempre há algo de novo,
são meus concertos, cantatas, sinfonias
que para mim valor têm bem maior
que a barulhada sem sentido desse povo
que me rodeia com suas tonterias...
MELODICIDADE II
Não que me julgue melhor do que ninguém;
se qualidade possuo intelectual,
só a recebi por favor espiritual;
dos talentos todos que possui alguém
é só o depositário e então se tem
obrigação de empregá-los no total;
não ocultarei esse dom do material,
pois ser escriba do verso me convém
e que algo possa aprender eu reconheço,
dos mais humildes muito espcialmente,
desconfiando dos melhor aquinhoados,
com quem converso velozmente e me despeço,
de agropecuária não sou cognoscente,
nem me interessam seus amores apressados.
MELODICIDADE III
Mas é tão raro se encontrar intelectual
sem trazer mácula de alguma ideologia!
E certamente a alguns concertos eu iria,
mas para que, se em casa tenho no total
uns três mil discos de abrangência bem real!
Entre as plateias eu até me imiscuiria,
mas perturbado pelas tosses que ouviria,
por seus murmúrios e suspiros e, afinal,
por essas palmas e estranhos assovios,
com que meu clima inteiramente cortariam
e para o lar eu voltaria insatisfeito,
para escutar meus rouxinóis presos em fios
dessas ranhuras em que os mortos gravariam
suas execuções, sem mostrar qualquer defeito!
UNANIMIDADE I – 1º AGOSTO 2018
Farei hoje este soneto e outro não faço,
que estou a traduzir desde o francês
uma obra de economia, que me fez
passar uma semana em seu abraço!
São estes os deveres em que passo
envolvido dia a dia e mês a mês,
vertendo livros para o português,
meus rascunhos juntando maço a maço!
Cada semana, eles já crescem mais,
sem sobrar tempo à redação final,
minha culpa cresce e o superego geme...
Pois são rascunhos de ideias seminais,
mas numerosos extravasam meu bornal,
enquanto o Sol se espanta e a Lua treme!
UNANIMIDADE II
Com o meu subconsciente estou aliado,
de lá me brota toda a inspiração,
numa unanimidade de intenção:
abandonar um só rascunho é vil pecado!
E te pergunto, ao encontrar-te do meu lado,
mesmo que seja só indireta a tua visão,
se o teu alvo não sofre uma pressão
de quem reclama ser tão só por ti amado.
Talvez, de fato, tua função na vida
seja cuidar da familia e do teu par,
mas em geral, tens acesso a qualquer mina,
de que pode brotar a obra sofrida,
que é teu dever ante o mundo proclamar;
se desprezada, parte da alma se assassina!
UNANIMIDADE III
O corpo e a alma te compõem internamente;
há desejos voluntários e hormonais,
necessidades vitais e materiais;
talvez tuas fomes te devorem totalmente,
mas se fores aos labirintos de tua mente,
segundo dizem, há divisões até sensuais,
teu consciente com intenções espirituais,
que o inconsciente dominará frequente;
ali está a parte que chamam subconsciente,
essa que pode realmente te ajudar
e a parte onírica – que te pode perturbar
ou dar início à criação, contente;
e lá no fundo, do tálamo a brotar
velhos instintos de insistência permanente.
UNANIMIDADE IV
Mas normalmente, não há esquizofrenia
ou alternâncias de tua personalidade,
mente e corpo só compondo uma unidade,
por mais meandros que ali se encontraria;
o importante é reger a melodia,
os instrumentos com musicalidade,
todos unidos na mesma liberdade,
sem esmagar-te com cacofonia!
Não penses que o inconsciente almejaria
com o consciente em conflito batalhar:
é sempre unânime essa interna multidão,
que as divisões a sociedade cria,
quando te impõe padrões a concordar,
não há disputa entre a mente e o coração.
UNANIMIDADE V
Antigamente, antes de haver erudição,
servia o cérebro para o sangue refrescar,
cabendo ao fígado a mente dominar,
enquanto outros indicavam o coração;
a psicanálise realizou uma inversão,
em tudo a mente exclusiva a governar,
mas dividida com o instinto e o sonhar,
pois toda análise só invoca a divisão;
alma e espírito e instinto corporal
devem em síntese o controle partilhar,
numa reunião real de cada parte,
não sendo o instinto unicamente o animal,
os teus desejos não deves massacrar:
sem a libido sexual não existe arte!...
UNANIMIDADE VI
Mas realmente, não pretendo te propor
qualquer exemplo que tenha experimentado
a minha síntese alcancei, mas não dourada,
só para mim demonstra o seu fragor;
o que atingi corresponde a meu teor,
terás tua síntese no coração domado,
dentro da mente a culpa dominada,
todas as partes a nutrir igual fervor.
Sempre é precisa a unanimidade
para obter-se maior intensidade
na vida adulta, mas sem a adulterar
e o que serve para ti, de ninguém mais
deves buscar de pretensa autoridade,
somente tuas sejam as sínteses finais!