LUGAR SECRETO
O espelho avesso a luz devolve um rosto
Em tudo espanto em curso e rapto breve --
Do quanto foi conserva um que de agosto,
Um quase riso em gesto afoito e leve.
À margem desse surto há tal doçura
Que não supõe traições tocando o lago
Em seu lugar secreto -- e em que moldura
Amor previu seu fim, por lapso vago?
A quem se atreva ao nome soa a dor
De dar em nada o esforço afeito a pena.
Viver é só sem luz, razão menor
De dúbia paz, virtude tão pequena.
E em tudo cala agora um deus vencido
Nas mágoas doutro olhar, já por ter sido.
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