MALFERIDO
MALFERIDO
Não te conheço, Amor, senão o engano,
Onde tu, por gracioso e destemido,
Com flechas de tocaia me hás ferido
A levar-me captivo não sem dano.
Eu sigo preso a ferros em teu plano,
Que, embora com sentido ou sem sentido,
Faz submisso quem antes aguerrido
Conforme seus caprichos de tirano.
Tu te ris das angústias que atravesso
Como se n'algum teatro, em distração,
Divertido me assistes o insucesso.
Há tempos um joguete em tua mão,
Piedade, Amor -- a ti tão-só te peço --
Cessa tu de ferir-me o coração!...
Betim - 25 05 1995