Um quase soneto para Florbela
Eterna Florbela, que o tempo não espanca
há por esses dias, tanto eco da tua canção
Poetisa bela, o momento da poesia franca
Tudo que dizes, e registrado está, é vulcão
E todo sentimento teu, despejado em lava
rico de emoção, é fogo, embora haja água
rio de livro, tão viramundo, mar de palavra
e em teus oceanos: há amor que deságua
Bela flor, e que meu olhar tanto te admira
no muito que faz à poesia tão sonhadora
és linda, a suave dama, da tua própria lira
És aqui, a diva, a ninfa, a musa dessa pira
essa a qual eu chamo de estante voadora
pois nela, tudo que sou de coração, delira
13-01-2019
12h04min
Para Florbela Espanca (1894-1930).
Professora poetisa, autora de excelentes sonetos e contos importantes da nossa língua portuguesa. Escreveu seu primeiro poema aos sete anos de idade. Foi uma das primeiras feministas de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz. Seus poemas são vistos como autobiográficos. Parte de sua inspiração veio de sua vida tumultuada, inquieta e sofrida pela rejeição do pai, que só a reconheceu como filha depois que ela cometeu suicídio. Sofreu pelo menos dois abortos espontâneos e hoje se sabe que suas crises nervosas eram de origem neurótica.
Casou-se três vezes, e pelos "padrões morais" da época foi muito criticada por isso.
Não participou de nenhum movimento artístico literário, mas sua obra é vista como romântica.