Reflexos

Apenas vulto na água aqui barrenta,
Tosco rosto surrado pelo vento,
Olhos profundos se abrem assim lento,
Num encontro de si com seus oitenta.
 
E com ânsia alcançar a imagem tenta,
Afastar de uma vez este tormento,
E para o alto elevar olhos e mento,
Que a corrente com força se arrebenta.
 
No reflexo dos olhos, face invade,
É claro aquele rosto não-verdade,
Mas no alto céu se vê também a lama.
 
Transpondo o azul, o próprio rosto vê,
É também um reflexo que prevê,
Na poça deste céu, seu eu que chama.