Por um bem que talvez eu tenha feito,
Alguém disse que Deu iria me pagar.
Acreditei que eu tinha um tal direito,
E, incontinente, fui logo Lhe cobrar.
 
Mas Deus fez aquela cara de descaso
De banqueiro tratando com golpista:
- Nem pagou o que me deve a prazo,
E já vem me pedir para sacar á vista?
 
E foi então que eu entendi a situação:
Por direito, nada na vida me foi dado,
No mundo não há bem que seja meu.
 
Quando nasci assumi uma obrigação,
E tudo que tenho me foi emprestado;
Se alguém devia, na verdade, era eu.