Soneto
A mesa posta na copa vazia,
a meia-noite e seu grau de incerteza...
Restam as migalhas de alguma poesia,
colhida como esmola da Beleza.
A água que goteja, lenta e fria,
as frutas exibindo-se na mesa,
a almofada que aguarda, macia,
o corpo, a alma cheia de grandeza.
O quadro meio torto na parede,
a geladeira que resume a sede
tão própria dos seres insaciáveis
que percorrem madrugadas aflitas
a devorar suas entranhas malditas,
famintos frente aos astros formidáveis...