Soneto
Em mim há um anjo bobo que assovia
E despista, um anjo louco e cabeludo
Que finge de tolo e sabe de tudo,
Um anjo que nem Rilke criaria.
Ele zomba da minha melancolia,
Do meu questionamento cabeçudo
De quem na vida muito leu, contudo
Tem a alma ignorante e vazia.
E em noites solitárias, quando aflora
Em meu ser a grande angústia do nada,
Esse anjo que em meu umbigo mora,
De forma bem sutil, dissimulada,
Enxuga uma lágrima disfarçada
E confessa que às vezes também chora.