Soneto
A noite como deusa me namora,
as casas como almas me observam,
os amores como lepras me enervam,
a estrada como a morte vai-se embora.
O tempo como um cavalo desliza,
as nuvens como aves vão e vêm,
as árvores inquietas ficam bem,
soçobradas pelo beijo da brisa.
A cidade noturna me soterra...
Eu sou um bêbado bebendo rima,
o último sonhador que há na terra,
um exímio lutador de esgrima
que tenta se acertar e a si mesmo erra
e cai no chão com a espada por cima.