SEM ABRIGO
SEM ABRIGO
Dormindo nos bancos dos jardins ao léu
Pelos vãos de escada, debaixo das pontes,
Tendo como tecto tanta vez o céu
E como horizonte não ter horizontes,
Assim vão na vida, boléu em boléu
Que de amor não houve raízes ou fontes
O sol, de encoberto, nunca lhes nasceu
Perdido na bruma que cobria os montes
No saco um pão duro, ou nem sequer pão...
Olhando o futuro com o que lhes dão
A esmola… a moeda, num gesto tão breve
E vêm doenças... o tempo se esfuma
Num tempo que é tempo de esp'rança nenhuma
A não ser aquela de que a morte os leve...
Joaquim Sustelo
(editado em OS MEUS CAMINHOS)