SE O CORAÇÃO FALASSE, O QUE DIRIA?

Olá amigos! Vou hoje deixar aqui um trabalho, suponho que para muitos de vós desconhecido: UMA COROA DE SONETOS.

Uma Coroa é composta por 14 sonetos, subordinados ou à volta do mesmo tema. (Este tema - Se o coração falasse, o que diria?- foi-me proposto pela minha grande amiga e poetisa Lisdália Viegas dos Santos, que também fez a sua Coroa.

As regras são: o 1º verso do 1º soneto é igual ao último verso do 14º soneto,isto é,a Coroa termina com o mesmo verso que a inicia. Por outro lado, cada soneto inicia-se sempre com o último verso do anterior.

Peço desculpa por abusar da vossa paciência, mas, ao mesmo tempo, é um desafio aos bons sonetistas que aqui estão. (Por exemplo, tu, Eliane, que tanto me visitas e que escreves tão bem sonetos, ficarás tentada? Rsrsrsrs)

Um abraço e obrigado aos que me lerem.

COROA DE SONETOS

TEMA: SE O CORAÇÃO FALASSE, O QUE DIRIA?

1.

Se o coração falasse, o que diria?

Que sons transmitiria lá do fundo?

Palavras só de amor que com magia

Fariam que nascesse um melhor Mundo?

E a partir daí, como seria?

Teria maior calma o furibundo?

A desejada paz nos chegaria

Levando-me este anseio em que me afundo?

Será que tais palavras lá nascidas

Dariam outro rumo às nossas vidas

E surgiria um Mundo menos louco?

Não sei! Que coisa tal nunca se deu

Se o coração falasse... e pelo meu

Deixem-me analisar aqui um pouco.

2.

Deixem-me analisar aqui um pouco

Que não é fácil dar minha resposta

Diferente o falar dum coração louco

Desse outro coração de que se gosta

Aquele falaria sem ter troco

Palavras sem sentido a dar à costa

Deixando-me o tal gosto de ser mouco

Que não é de loucuras minha aposta

Mas quanto ao coração de boa gente

Eu ficaria em modo bem diferente

Escutando bem atento a qualquer hora

Bons termos registando; e “reveria”

Quem tanto me ensinou desde esse dia

Em que tive no Mundo a minha aurora.

3.

Em que tive no Mundo a minha aurora

E aquela doce mãe ou doce fada

Rompeu a ensinar-me vida fora

Que desde o arrebol, na madrugada,

Devemos consolar sempre quem chora

Por gestos, por acções, palavra dada

E nunca virar costas, ir embora

Sem ver a sua alma confortada

E à noite quando a cama nos espreita

Pensarmos para nós "tenho obra feita

Porque ajudei alguém que estava triste"

Os sonhos a surgirem bem melhores

Azuis, de verde esperança, multicores

Onde um sorriso a vir nunca resiste.

4.

Onde um sorriso a vir nunca resiste

Ficando a nossa alma comovida

Pois vê que o nosso qu’rer, no Bem persiste

Que o aprendemos bem logo à partida

O coração diria "tu já viste

A luz que dá mais luz à nossa vida?

É isso meu amigo, ela consiste:

Em dar a mão aos pobres na subida

Esses que pouco têm, por desgraça

Por quem o Sol às vezes não lhes passa

A quem a vida pouco ou nada deu

Mas com o nosso amor, a nossa ajuda

Decerto alguma coisa neles muda

Tornando-lhes a Terra nalgum Céu."

5.

Tornando-lhes a Terra nalgum Céu

Quem sabe se em pequeno Paraíso

Que aquele pouco apoio que se deu

Lhes foi tão precioso, tão preciso…

Mudou algum conceito que era seu

Em pouco? Isso é que já não ajuizo

Certo é que agimos bem, aconteceu!

É só nestas palavras que repiso

Se o coração falasse (o mais sensível),

Talvez o que não tem do senso o nível

Escutasse aquele sempre, até mudar...

Pra que esse melhor Mundo nos surgisse

E a função dos Homens se cumprisse

Que só pode ser uma e é AMAR!

6.

Que só pode ser uma e é AMAR

Embora o homem esqueça tanta vez

Será essa a razão de cá se estar

(Propósitos de Quem o homem fez)

Mas muitos no oposto, a odiar

Ganância que lhes há, insensatez,

Prosseguem nesses ódios, a matar

E tréguas… nem um ano, nem um mês!

Ah… gente mais que fera, de tão louca,

Que para triunfar outros apouca

Mantendo-lhes o sol sempre encoberto

Teria mesmo voz, tal coração?

Falasse... ouvir-se-ia algum trovão

Sem nada se entender, inda que perto.

7.

Sem nada se entender, inda que perto

E sem poder medir em decibéis

De gente que duvido do conserto

Amante mas do ouro e seus anéis

A menos que o falar cadente, certo

Dos outros corações, de amor fiéis,

Lhe conferisse algum pequeno acerto

Mostrando no carinho melhores leis

Mas é da minha parte conjectura

Talvez o meu anseio na procura

De tal carinho e paz, dessa bonança

Valores que prezei sempre na vida

Duma alma que ensinaram ser sentida

Dum chá do qual bebi logo em criança.

8.

Dum chá do qual bebi logo em criança

Mesmo vindo dum berço algo singelo

E sempre, até agora, não me cansa

A mente a tais valores fazer apelo

Por isso nunca perco a minha esperança

De ver Mundo melhor, algo mais belo

Incuto sempre aos outros confiança

Falando do que guardo em meu castelo

E tanto de amizades que arranjei!

Por todos os valores que mostrei

Provando que cá estão, na minha ideia

À qual bons ideais sempre lhe afluem

Umas muralhas fortes que não ruem

Diferentes de castelos, os de areia.

9.

Diferentes de castelos, os de areia

Os tais que se constroem pela praia

Que em vindo uma mais forte maré cheia

Nunca se evitará que tudo caia

Fosse alma e coração parede meia

Tendo ambos, do amor, a nobre laia

Teria um outro gosto a nossa ceia

E todos dormiriam em cambraia

Seria mais suave o nosso sono

Sabendo nunca estar ao abandono

Pois todo era um amigo ou um irmão

Depois ao despertar, no outro dia

Um sol igual pra todos surgiria

Todos vivendo em paz, em união.

10.

Todos vivendo em paz, em união

Sabendo haver amor na plenitude

Cantando-lhe algum hino o coração

Já que ele de cantar tinha a virtude

Esse hino, ou hipotética canção

Eu penso tanto neles, amiúde...

No belo que haveria em seu refrão

E isso dá-me força! Até saúde!

Meu querido coração que tanto acusas

Vontade de ver tal... e minhas musas

Ajudam a contar-vos tudo isto!

Eu pouco desfaleço em contratempos

Aguardo com esperança outros momentos

Que me sejam melhores. Não desisto.

11.

Que me sejam melhores. Não desisto.

(Não traz nada de novo a desistência)

Vejamos o exemplo que houve em Cristo

Que nunca recuou vendo inclemência

Será 'ma teimosia tudo isto?

Como se erguesse empresa na falência?

Mas é nesta vontade que persisto

Perdoe-se-me alguma eloquência

Que sempre pelo Bem me pronuncio

O pensamento nele horas a fio

Fazendo dos meus ganhos o balanço

Às vezes também pesa a consciência

Ou porque já vivi má experiência

Ou porque pouco andei e pouco alcanço.

12.

Ou porque pouco andei e pouco alcanço

Ou porque sou mortal e também falho

E quando estou sozinho em meu remanso

Creiam que até comigo também ralho

Não ajo sempre bem, nunca afianço

(Afiançar seria um mau trabalho)

Palavras há sem querer que às vezes lanço

Ou gestos impensados, por atalho…

São erros de que assumo a minha culpa

Quando por eles dou peço desculpa

Tentando não voltar a repeti-los

Nós vendo que não temos perfeição

Devemos respeitar na aceitação

Essoutro que nos mostre bons estilos.

13.

Essoutro que nos mostre bons estilos

Conselhos que por bons a gente aprenda

Mas nunca os aceitar de “crocodilos”,

Que julgam ver a nossa alma à venda

Nós somos professores e pupilos

Que a nossa mente sempre a isso atenda

Na calma em nossos gestos mais tranquilos

É que um amigo enorme se desvenda

E enquanto a gente vive, por cá anda

Saber que há muito vento que ciranda

Mas uns são leve brisa, outros tufões

Tirar dos que se pode algum partido

Olhar d'onde eles sopram, seu sentido

Saber quais os que trazem ilusões.

14.

Saber quais os que trazem ilusões

E distinguir os ventos da verdade

Que aquecem sempre os nossos corações

Na paz e no amor. Na lealdade

Mudando pra melhor nossas feições

Que o coração recebe-os com vontade!

Fizessem desse modo multidões

Seria um Mundo em paz na liberdade!

Eu penso que é possível, que se pode

Que cada um de nós não se acomode

Julgando que tal Mundo é utopia

Acerca do que deixo aqui escrito

São ecos do sentir... talvez o grito

Se o coração falasse, o que diria.

Joaquim Sustelo

(editada em RAIOS DE LUZ)

Joaquim Sustelo
Enviado por Joaquim Sustelo em 16/07/2007
Código do texto: T566738