Soneto da Idade

Foi-se um sopro de vida, e nada importa.

Embalo-me do alpendre. No quintal,

vou contabilizando cada mal,

serenamente, vendo a minha horta.

Passa um pouquinho, e outro fio se corta,

descosturando o pano natural.

Então, levanto, corro pro varal,

pego as roupas, me apresso e fecho a porta.

Dali em diante, só tortura vã…

De que adianta salvar o sopro alheio

se a morte vem manhã após manhã?

E, em tudo, é vã também minha vontade,

pois mesmo negando tudo o que creio,

serei vencido pela minha idade.