AUTOBIOGRAFIA - capítulo três

AUTOBIOGRAFIA - capítulo três

Em se tratando d’eu não ter mostrado factos,

Tal silêncio meu é antes esquecimento.

Pois, nada de importante entendo no momento

Advir-me de quaisquer datas, haveres ou actos.

Tão-só do que escrevi, registos inexactos,

Tornando algo aleatório em acontecimento.

Assim os versos têm, sem mor merecimento,

Deixado aqui e ali sentimentos intactos.

Não mais que isso serão quando de vez me for,

Pois, muito pouco vale o que fiz em favor

D’uma arte que se oculta enfim dia após dia.

Por ventura há alguém qu’inda guarde um verso?

Ou não será que em vão reúno o ser disperso

Para apenas escrever -- de mim a mim -- poesia?

* * *