ARBÍTRIO

Parti, serei agora o que não fui,

memória estilizada na moldura,

velada por saudade que a dilui,

porque a vida vale enquanto dura.

Profunda é a razão que não influi,

é areia movediça e se afigura,

a espelho estilhaçado que reflui,

tornando-me distante da amargura.

Capricho de uma vida inteira rito,

a última ilusão virou segredo,

e então agora sou apenas mito.

Luz morta é a eternidade já sem medo,

aqui eu apitava e lá não apito,

efêmera lembrança de um sol ledo.

Miguel Eduardo Gonçalves
Enviado por Miguel Eduardo Gonçalves em 04/09/2014
Código do texto: T4949109
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