EMBUSTE

Até queria rebrilhar-me tons sombrios,

banir manente as excrescências necrosadas

que lentamente se alastraram pelos brios,

pesando muito e me impedindo as escaladas.

Seria bom demais jamais os tempos frios

em minhas lerdas emoções e ações paradas,

levando o murcho coração aos calafrios,

que neva eternas, infernais manhãs nubladas.

Queria mesmo ser melhor, manar nobreza,

raspar crostinhas de arrogância com firmeza,

amar pessoas, respeitar, por mais que custe.

Mas a consciência gigantesca berra agudo,

me grita ao peito, nervos, fibras, dentro, tudo:

o meu pendor ao bem de amor é puro embuste.