O ESPANTALHO
Para Francisco Carvalho
Vozes ouvi ditando-me petardos
Ousados ditirambos, trovas, marcos
Outrora pertenci aos Goliardos
Agora, porém, faz-se o ouvido parco
Astros vi cujas luzes e estilhaços
Deixaram-me os cabelos eriçados
Mas ver também enfada e hoje me escasso
O pelo ralo, o olhar cinza, embaçado
O corpo, qual quebrado por um auto
E minh'alma indo abaixo pelo ralo
Se algo tive, tomaram-me de assalto
Ou eu mesmo matei, Sardanapalo
Após tanto viver, esse ato-falho
Que fui? Que sou? - Poeta ou Espantalho
(Do livro CONCERTO Nº 1NICO EM MIM MAIOR PARA PALAVRA E ORQUESTRA. POEMA - 1.º MOVIMENTO)