DESESPERANÇADO
Escorregou na lama densa dessa vida.
Não mais confia nos seus próprios sentimentos,
mergulha-os sujos sob os órgãos crus, visguentos
e os fagocita, feito ameba endoidecida.
Que torturantes são seus crassos pensamentos!
Derramam ácido na face embrutecida,
refervem vermes carcomendo a fé vencida
e cisco ameno, misturados a excrementos.
Dentre o fedido barro imundo que o permeia,
procura andar ou se arrastar, sem força alheia;
está sozinho, sangra, preso em sombra turva.
E lambuzado em cusparadas de cobrança,
segue atolado ao tremedal desesperança,
ardendo o pânico ante o oculto após a curva.