VIDA EM SONETO
Resisto, não me entrego aos vis absurdos
que grassam serpejando sobre aldeias,
cuspindo chispas ácidas nas veias
dos entes gente escravos bobos surdos.
Mas preso na redoma dos horrores
de tais aldeias, pós do mesmo mundo,
pairando bambo, lerdo ao vento imundo
do resto da existência, sangro ardores.
A bruta iniquidade edaz devora
o eflúvio delicado em cada aurora
e excreta, em minha cara, cinza e preto.
Mas salvo, de teimoso, a luz bendita,
sorrio, assim, de novo, ao ver escrita
a vida pelos versos de um soneto.