Sub-reptício
Aos amores proibidos
I - O espião
Como o mais hábil, o mais silencioso...
Adentra o vão do peito um espião
Forçando, neste cofre ocioso,
A joia embriagante da paixão.
Ai quem me dera amar poder então!
Não fosse eu um covarde criminoso
Cuja mão treme ao crime e ao seu gozo
Não me seria o amor só um senão
Somente pedra virgem, solitária
Reclusa em um mofado relicário
Perdendo a pouco e pouco o seu enfoque...
Qual uma freira (ou uma carcerária)
A quem um sentinela - imaginário
Ou real – somente a vê, mas nega o toque.
II- O orvalho
Como um perfume espalha-se no ambiente
Uma vez que liberto da clausura
Do frasco pra adequar-se a estrutura
O orvalho se propaga lentamente...
Num gesto que lhe é próprio e inconsciente
Ao toque abranda a sede e a secura
De qualquer flor que encontra pela frente
Ele se inclina e lhe oferece a cura.
Atribulando o bem-estar da flor
Que ao coração não raro simboliza
Uma emoção pesada martiriza
O caule oscila às gotas de estupor...
O orvalho agora é chuva e a fragiliza:
E a flor não mais resiste; cai de amor.
III – o beijo de judas
O céu redime a terra quando a oscula
E o horizonte os une em matrimônio
A natureza lembra em gesto idôneo
Mundano em sacro às vezes se modula
E a culpa que me sobe até a medula
No ato amor que se tem por errôneo
Por que me torna a Judas ou demônio
Que com impuro beijo o amor macula?
Só posso então selar o meu destino
De mórbida atração a que fadado
Estou de enodoar o amor divino...
Pois ,se ao amar, cometo um ato errado,
Assim que torno são meu desatino,
E enxergo bênção onde houver pecado!