Sub-reptício

Aos amores proibidos

I - O espião

Como o mais hábil, o mais silencioso...

Adentra o vão do peito um espião

Forçando, neste cofre ocioso,

A joia embriagante da paixão.

Ai quem me dera amar poder então!

Não fosse eu um covarde criminoso

Cuja mão treme ao crime e ao seu gozo

Não me seria o amor só um senão

Somente pedra virgem, solitária

Reclusa em um mofado relicário

Perdendo a pouco e pouco o seu enfoque...

Qual uma freira (ou uma carcerária)

A quem um sentinela - imaginário

Ou real – somente a vê, mas nega o toque.

II- O orvalho

Como um perfume espalha-se no ambiente

Uma vez que liberto da clausura

Do frasco pra adequar-se a estrutura

O orvalho se propaga lentamente...

Num gesto que lhe é próprio e inconsciente

Ao toque abranda a sede e a secura

De qualquer flor que encontra pela frente

Ele se inclina e lhe oferece a cura.

Atribulando o bem-estar da flor

Que ao coração não raro simboliza

Uma emoção pesada martiriza

O caule oscila às gotas de estupor...

O orvalho agora é chuva e a fragiliza:

E a flor não mais resiste; cai de amor.

III – o beijo de judas

O céu redime a terra quando a oscula

E o horizonte os une em matrimônio

A natureza lembra em gesto idôneo

Mundano em sacro às vezes se modula

E a culpa que me sobe até a medula

No ato amor que se tem por errôneo

Por que me torna a Judas ou demônio

Que com impuro beijo o amor macula?

Só posso então selar o meu destino

De mórbida atração a que fadado

Estou de enodoar o amor divino...

Pois ,se ao amar, cometo um ato errado,

Assim que torno são meu desatino,

E enxergo bênção onde houver pecado!

Caio Batista
Enviado por Caio Batista em 25/08/2013
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