FÉLEO FAVO

Não quero mais engolir teu vinho,

me embriagar ao vigor do beijo

com que reviras o meu caminho,

me entortas tudo num bambo aleijo.

Ora decido: tal vício deixo,

a dependência em teu sol a pino

de meio-dia abobando o tino

e tão intenso a empenar meu eixo.

Mas teu calor já me encheu de marcas,

do gosto vinho, sou todo escravo,

respiro do éter com que me encharcas.

Desisto, é tarde, a teus pés me encravo

e acostumei-me às doçuras parcas

que lambo, doido, em teu féleo favo.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 22/08/2013
Código do texto: T4446170
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