O RISO E A PEDRA
Na cara arcada cara em riso armado
de dentes que se apertam salientes;
se mostra o mais voraz dos mais contentes,
dá glórias à existência, escancarado.
Da estirpe dos notáveis sorridentes,
contempla vida linda e sol dourado;
não vê o escarro denso derramado
das pedras-gente, gosmas indigentes.
Sorrindo, nem percebe os malcheirosos
estorvos, seus cachimbos venenosos,
caminha como fosse num jardim.
Tamanha alienação, porém, tem preço:
tropeça em quase vivo humano gesso;
quebrada a arcada, o riso é morto, enfim.