FOLHA

O quanto é temível a surda incerteza

perante os urdumes do dia vindouro,

que baila vendada por sobre a aspereza

do chão ressequido de meu passadouro.

E tanto me assusta esta humana fraqueza

que toca-me a essência em voraz sorvedouro

e leva-me, haurindo a pretensa nobreza;

eu solto no vento, aturdido besouro.

Ainda que pense amparar-me na bolha

imensa e embaçada da tola soberba

desviando de dardos, poltrão e na encolha...

Só resta aceitar, não existe outra escolha,

verdade inconteste, imutável, acerba:

eu sou, para a Terra, não mais que uma folha.