NOTURNA
Ela acolhe a estrela solta lá do céu
a aquecer a noite intensa do seu peito
e acender o seu futuro de papel
nas esquinas, embolado ao desrespeito.
E no mar incerto feito em cama alheia,
se aprofunda inteira, corpo, brio e luz.
E clareia-se abnegada, aberta, cheia.
E se entrega às ondas doidas que seduz.
Mas precisa, em breve, de ir embora; sabe.
Convenções humanas, nada aqui lhe cabe.
Quer ceder seu brilho noutros cosmos, ruas.
Ela sai, enquanto dorme o explorador
(tão bonito, o seu amante malfeitor).
Este mundo não comporta duas luas.