Soneto da Fragilidade


Minhas células, boas e amáveis hospedeiras
Acolhem sem reservas pequeninos vírus gripais
Despida da minha força e coragem costumeira
Contemplo meu corpo débil envolvido por ais.

Templo vazio da sua rotineira e própria vontade
Jogado febril sobre lençóis de fios de algodão
Envolve-se na sua óbvia fragilidade
Esquecido de seus desejos de ação.

O corpo, roupagem da alma que o habita
Sucumbido qual efêmera flor num jardim
Chora sua debilidade, qual cordas de bandolim

Não há bálsamo que cure a dor que no âmago transita
Diante da verdade incontestável desta revelação
Transformo esta gripe em modesta inspiração.