Pinóquio às avessas

A um boneco

Quando a tua expressão disser mais nada

E nada mais dizer for o que queiras

Feito um livro a sonhar com bela capa

Mas folhas fúteis, vãs e passageiras.

Quando t’as ânsias graves ou ligeiras

Se resumirem a uma só mirada

Do rosto - sem mais rugas altaneiras -;

De uma boneca fores espelhada.

Terás de rir teu mórbido Sorriso!

Da coleção de esgares imprecisos

Que tu roubaste ao tempo com t’a lida

E ele há de revelar-te a face torta

Pintada feito natureza morta

Neste tecido a sobrepor-se a vida.