CÉU NOTURNO
Um céu noturno se escancara à minha frente,
abrindo a boca sem estrelas, desdentada;
ele me exibe a imensidade sua, ingente
e se aproxima a sufocar-me à madrugada.
Eu nada mais consigo ver, senão a treva
difusa, arfante, que encarcera movimento;
todo o sentido de existência sorve, leva
ao seu vazio interno, o denso firmamento.
E mergulhado em tudo escuro me desfaço,
dissolvo essência, nervos, fibras, cada artéria
na vastidão do espesso não da insegurança.
Sou de repente mero cisco deste espaço,
pairando seco no sombrio da miséria
que grassa ao céu dos impedidos de esperança.