CÉU NOTURNO

Um céu noturno se escancara à minha frente,

abrindo a boca sem estrelas, desdentada;

ele me exibe a imensidade sua, ingente

e se aproxima a sufocar-me à madrugada.

Eu nada mais consigo ver, senão a treva

difusa, arfante, que encarcera movimento;

todo o sentido de existência sorve, leva

ao seu vazio interno, o denso firmamento.

E mergulhado em tudo escuro me desfaço,

dissolvo essência, nervos, fibras, cada artéria

na vastidão do espesso não da insegurança.

Sou de repente mero cisco deste espaço,

pairando seco no sombrio da miséria

que grassa ao céu dos impedidos de esperança.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 26/04/2013
Reeditado em 27/04/2013
Código do texto: T4260396
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