FÚRIA
De toda a fala se assenhora doida fúria,
entoa ditos que jamais proclamaria,
grassados tortos pelos páramos da incúria,
assim, perdidos do equilíbrio, à revelia.
E por instante, o bravo em bruto desvario
é libertado do pudor de verbo espúrio
que veste a fala de aparente alvor sadio,
enquanto mágoa se deságua no murmúrio.
Verdade, a fúria é muitas vezes salvadora
da integridade, dignidade da pessoa
remando exausta o barco-vida em rumo insano.
Contudo, a sanha de seu feito, esmagadora,
esgana forte a leve paz que ao léu revoa
e cospe ao mundo que violência é instinto humano.