ABANDONO
Sentindo ardor do desamparo,
aquela ausência que perfura
profundo, agudo, em ópio amaro,
rasga ilusão de alar candura.
Estrago bruto, sem reparo...
Anulação de gente, agrura...
E a tela em dia ameno e claro,
ah, nunca mais se prefigura...
Mas do abandono refloresce
a rara orquídea persistência
com suavidade de autoestima...
Do próprio amor se resplandece
e ressuscita a inexistência;
do verso vida, é nova rima.