O coveiro
No túmulo a que chamo coração
-Temendo que eu a mim me fosse tredo-
Tranquei meus mortos; fi-lo em segredo.
Hipócrita tornei-me desde então.
Um morto que dos mortos seus tem medo;
Não passo de uma fúnebre irrisão,
Que cala o seu espírito em degredo
E quando pensa em sim responde não!
Pois cada vez mais fundo cavo a cova...
E o abismo entre o meu Eu e o que se mostra
Se alarga a cada vil mentira nova.
Fechado à guisa de sombria ostra,
Receio que não haja mais quem possa
Abrir-me a campa desta imensa fossa.