O coveiro

No túmulo a que chamo coração

-Temendo que eu a mim me fosse tredo-

Tranquei meus mortos; fi-lo em segredo.

Hipócrita tornei-me desde então.

Um morto que dos mortos seus tem medo;

Não passo de uma fúnebre irrisão,

Que cala o seu espírito em degredo

E quando pensa em sim responde não!

Pois cada vez mais fundo cavo a cova...

E o abismo entre o meu Eu e o que se mostra

Se alarga a cada vil mentira nova.

Fechado à guisa de sombria ostra,

Receio que não haja mais quem possa

Abrir-me a campa desta imensa fossa.

Caio Batista
Enviado por Caio Batista em 14/01/2013
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