Uma lembrança
I - Momento
É vão tentar a tarde que se escoa
Reter com a peneira da memória,
Do Agora fica a areia merencória
E a todo instante o Instante se esboroa.
Do que restar o vento vem e... voa.
Conquanto lentamente é sem demora e à
Lembrança leve o tempo assopra e a ecoa
Mas não em nós, e sim na própria História.
A noite vem com suas trevas novas
Tisnar o céu da tarde - já passado -
Recordo-o (o céu noturno é estrelado).
Estrelas são porém celestes provas*
De que, embora ilumine a negra alcova,
Jamais reviverá o morto amado.
*Muitas das estrelas visíveis -a olho nu ou telescópio- são corpos celestes já mortos, cuja luz chega até nós com anos de atraso.