Prosopopeia

Prosopopeia

Ao brado de um trovão ou branda chuva;

Quer solte-o grave ou fino como a pele;

Desabe o céu ou caia como luva;

Pra cada som que a mãe Natura expele

O homem faz-se surdo e não se curva!

Ouvir a própria voz é o que o impele.

Um ego em eco que ao ouvido turva,

Pois tal ruído aos outros sempre excele.

E segue assim distante à voz de abraço

-Um fio desgarrado ao grande laço

Que une aos seres todos numa teia-

Prossegue só -eterno descompasso-,

Não ouve nem se faz ouvir. Na aleia

Seguem em mútua e vã prosopopeia.

Caio Batista
Enviado por Caio Batista em 18/12/2012
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