A dança da Partida
E os dois dormem por mais uma noite apenas,
Lado a lado, não dizem nada,
Já não há mais nada a dizer,
Às vezes, sem perceber, uma lágrima teimosa tenta escapar,
Ele a olha clandestinamente,
Ela tenta aproximar os dedos dos pés de sua pele,
A timidez lhes tomam os impulsos,
A tristeza lhe desvia o olhar,
Os dedos recuam,
Esta é a última noite,
Não se entende por que,
Não se entende para que,
Quem somos nós neste momento insólito,
Quem somos, sozinhos, nesta noite,
Quem somos nesta despedida perdida de dois seres que se amavam.
Grandes verdades do coração,
Pequenas mentiras da alma,
Esta é a doce ilusão do amor,
Esta é a doce lembrança da dor,
Estas são as gotas de despedidas da união,
Que se desfizeram em roupas espalhadas pelo chão.
Despedida, separação, solidão, lágrimas,
Combinam os sons, combinam as sensações,
Combinam-se vazios pelos cantos da casa,
Combinam-se em roupas dobradas preenchendo as malas.
Ali se vão as promessas,
Ali se vão os planos.
Deitados à noite sozinhos,
Pensam que poderia ser diferente,
Pensam que erraram em algum ponto,
Sonham com novas realizações,
Acordam suados, sozinhos e perdidos.
Separam-se de vez as escovas,
Separam-se de vez as esperanças,
Novos olhares, novos cheiros procuram,
Novas bocas, novos corpos se aproximam,
Separam-se duas almas entristecidas,
Se vão, deixando os gozos e os risos,
Se vão pra novos orgasmos e medos,
Se vão deixando vazios,
Os lugares, antes, repletos de promessas.
Assim separam-se os corpos,
Assim separam-se desejos
Assim separam-se amores,
Num último suspiro sentido.
Separação, separação, separação.