OBSCURO DESEJO

No dia em que eu me for desse espaço,

Vou ser o minúsculo grão de poeira,

Quando eu deixar de ser matéria inteira,

E não deixar da minha existência o menor traço.

Na inexistência vou receber o matinal abraço,

Da brisa que conduz o pequeno grão até beira,

Da água mansa, azul turquesa da cachoeira,

Eternamente chorosa com cordão crasso,

Mas as minhas lágrimas doentes,

Ficarão sepultadas na terra, dormentes,

Quando eu cruzar a brumosa divisa,

E a morte terá roubado meu coração com beijo,

Concretizando o meu profundo, obscuro desejo,

De ser o grão de poeira conduzido à água pela brisa.

Valéria Leobino
Enviado por Valéria Leobino em 23/11/2012
Código do texto: T4000647
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