OBSCURO DESEJO
No dia em que eu me for desse espaço,
Vou ser o minúsculo grão de poeira,
Quando eu deixar de ser matéria inteira,
E não deixar da minha existência o menor traço.
Na inexistência vou receber o matinal abraço,
Da brisa que conduz o pequeno grão até beira,
Da água mansa, azul turquesa da cachoeira,
Eternamente chorosa com cordão crasso,
Mas as minhas lágrimas doentes,
Ficarão sepultadas na terra, dormentes,
Quando eu cruzar a brumosa divisa,
E a morte terá roubado meu coração com beijo,
Concretizando o meu profundo, obscuro desejo,
De ser o grão de poeira conduzido à água pela brisa.