LAVA
Apenas vejo as folhas secas despencadas
dos galhos firmes, juvenis do alvor de mim,
bem como as flores da ilusão despetaladas
que coloriram-me as manhãs, o meu jardim...
Vestígios mortos do passado, fés aladas
que cintilavam de esperanças mundo em sim...
As casas pobres, mas felizes, abastadas
de força, encanto, amor, solares, tudo, alfim...
E no deserto de emoção e de sentido,
vou me arrastando à infinda sede, ensurdecido
pelo metal que arranha o canto da poesia.
Ceifou-me a vida, em torpe, bruta malvadeza,
as chamas claras, as centelhas da leveza
e mergulhou-me em lava densa de apatia.