CINZAS DE CIGARRO

Já não suporto os teus cigarros, a fumaça

que invade a casa, nosso quarto, teu cinzeiro

e a pele tua, o corpo todo preso ao cheiro

que se recende à nicotina, aos ares grassa.

Por muito tempo me mantive na mordaça

do mudo amante, dependente companheiro,

que só por medo de perder se enquadra inteiro

dentre as vontades de outro ser, seu ser se enlaça.

Mas ora amarga o coração que está vazio,

foi pouco a pouco se secando ao teu fastio,

virou morada abandonada de um deus triste.

E assim, dou basta a tal fumaça, teu pigarro!

Não percebeste, feito às cinzas do cigarro,

o meu amor se esfacelou, não mais existe.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 16/07/2012
Código do texto: T3780781
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