O VULTO
E foge de mim com sarcasmo no olhar,
sorriso sombrio, perverso, entredentes,
o corpo escondido nas vestes frementes
dissolve-se em vulto a correr, se afastar.
Invade, insolente, meu cerne, meu ser
nas noites de insônia e lembranças arfantes
e até me seduz de ilusões delirantes,
mas logo se cobre a negar-me o prazer.
Preciso arrancá-lo do meu pensamento!
E assim, prosseguir aspirando o momento
liberto das garras de um pássaro escuro.
Pois sei ser insano viver nesta busca
inútil, vencida da luz que se ofusca
na trilha em que some o tal vulto, o futuro.