SANHA URBANA
E se afogando às enxurradas turvas, densas
de tanta urgência, de tormenta, bruto afã,
os homens seguem rumo ao nada do amanhã,
cuspindo féis de egocentrismo e indiferenças.
Nesse desfile de feições tristonhas, tensas,
de sentimento entorpecido à fé malsã,
sob a chibata da rotina algoz, vilã,
a rua esmaga o tempo em suas plúmbeas prensas.
Os edifícios, nos seus vítreos dentes fartos,
pressionam, forte como as dores dos infartos,
pessoas presas dentro em salas, cifras, fones.
E sobre o asfalto, carros monstros rugem bravos
a conduzirem seus patéticos escravos...
Robotizados homens sós; oh! Meros clones!