NÉVOA E SONHO

Numa saudade santa e sem sentido
de estrelas do passado, névoa e sonho,
mil vezes, e outras mil, haja eu vivido
na bolha-encanto de um país risonho.

Um tempo áureo, retalho descosido
bordado a cores que a gosto reponho
uma a uma, num escrínio definido:
dois lagos rasos, num luzir tristonho.

Desperto o sonho de incontidas vagas,
paraíso de inenarráveis plagas,
feixes de luz, a coroar o instante.

Qual flor do campo, ávida por perfume,
foste meu sol, eu um simples vaga-lume
sob o luar, sofrido, ainda pulsante!


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05/05/2008

In MARES afora... VipWork Editora, 2010, p.31.